Crônica

O último a privatizar puxa a descarga

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O último a privatizar puxa a descarga Foto: Alex Rocha/PMPA
Pra quem ainda tinha dúvidas quanto ao potencial do Melo pra melar ainda mais a vida dos trabalhadores porto-alegrenses, aí está, finalmente, a privatização da Carris, tão sonhada pelos cretinos que nunca puseram um pé dentro dum ônibus. Não quero, porém, centralizar as críticas na figura do prefeito. Porque convenhamos: muito mais absurdo do que esta privatização da Carris foi o fato de o Melo ter conseguido chegar à prefeitura, apesar de todo o seu despreparo, que não podia ter ficado mais evidente do que ficou cada vez que ele abria a boa em público ao longo das eleições de 2020. E isso diz muito sobre nós, porto-alegrenses, por mais que agora queiramos meter os indicadores nos ouvidos pra não escutar. Está na hora de Porto Alegre se olhar no espelho. Somos isto, afinal: uma cidade que, diante de um Melo e de uma Manuela, faz a escolha que fez. Mas não precisamos ser assim pra sempre. E, se queremos mudar, acredito que o primeiro passo seja abrirmos o coração pra tentarmos entender o que somos hoje e por quê. Pra mim, destaca-se, ocupando posição central nos mecanismos que modelam a mentalidade porto-alegrense, a nossa imprensa, tão podre quanto se tornará a Carris depois de privatizada. O Melo se elegeu com a ajuda de trabalhadores. É sempre assim que acontece. E, quando eu paro pra tentar entender o que leva um trabalhador a votar contra os próprios interesses, só posso concluir que esse trabalhador não sabia que estava a fazer isso. E não sabia que estava a fazer isso porque não foi bem informado. E não foi bem informado porque a nossa imprensa é o que é. Nunca vou esquecer: uma vez, tempos atrás, quando eu ainda acordava bem cedo pra ir trabalhar na obra, o nosso telejornal matinal que mais atinge os trabalhadores porto-alegrenses teve o desplante de fazer uma matéria sobre a Carris, filhadaputamente favorável à privatização. É claro que não faltou um picareta engravatado pra apresentar números mostrando que a Carris não dava lucro. E é claro que também não faltou um repórter pra ir ao vivo numa parada de ônibus movimentada mostrar os trabalhadores indignados com a demora de uma linha da Carris. O que faltou, é claro, foi alguém que explicasse que a prioridade de uma empresa pública — ou de capital misto, como no caso da Carris — não é gerar lucro, e sim prestar um serviço do qual a população necessita, mas que a iniciativa privada não prestaria, ou prestaria mal, justamente por visar o lucro, que necessariamente implica a redução dos custos. Em outras palavras, faltou alguém que explicasse que, se aquela linha da Carris não contava com uma quantidade de ônibus adequada, a maneira óbvia de corrigir o problema seria aumentar o número de ônibus, o que afastaria ainda mais a possibilidade de a empresa gerar lucro, mas melhoraria a qualidade da prestação do serviço; por outro lado, se por algum motivo misterioso os trabalhadores daquela parada preferissem que a Carris […]

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