Quando a casa cai
Existe um trabalho sistemático, teórico e crítico sobre as casas-museus de escritores. Por exemplo, se discute o agenciamento da chamada memória do escritor, a legitimidade dos discursos produzidos pelos projetos museológicos dessas casas versus o texto literário, a autoridade de representantes legais e/ou herdeiros que agem, às vezes – mas nem sempre – em nome de uma reserva de mercado simbólica.
Esses debates são de bastante relevância para as chamadas ciências humanas e para o mundo intelectual e acadêmico que os produz. Claro, reverberam no mundo não-discursivo, e de um modo que o senso comum nem suspeita. Mas, não creio que interessem ao público em geral, que deseja, ao entrar em uma casa-museu, deleitar-se, conhecer mais sobre a vida de um escritor de sua preferência, fazer turismo ou esquecer a aridez da labuta diária. Sentir que ali morou uma vida singular e sonhar, talvez, que sua própria vida possa sair da mesmice modorrenta ou da lógica utilitarista da quitação de boletos em série.
[Continua...]