Crônica

Representação contemporânea da escravatura

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Representação contemporânea da escravatura

O futebol é uma representação contemporânea da escravatura. Por que digo isso? É a única profissão no mundo em que se fala em comprar e vender pessoas; é a única profissão no mundo onde corpos são partilhados em percentuais. 

Esse corpo não é de ninguém, tampouco da própria pessoa. Ele é fatiado e tratado como moeda de troca rentável para grupos de investidores, empresários e clubes, e que só tem utilidade enquanto puder ser negociável. Se demorar muito, não interessa mais, pois, neste caso, vira descarte.

O futebol é a grande esperança das famílias pobres e pretas para uma ascensão social e econômica, pois as escolas de qualidade são privilégios e benefícios para perpetuação de poder da classe média alta e da burguesia. Resta, aos filhos da pobreza, o famoso “tudo ou nada”.

A exploração está acontecendo cada vez mais cedo. Famílias entregam seus filhos de 11 ou 12 anos para os clubes, muitas vezes para garantir pelo menos três alimentações por dia e aliviar os gastos da família, porque o futuro atleta é uma boca a menos para dividir o pedaço de carne.

Os empresários são atravessadores que, em alusão ao tráfico de seres humanos escravizados, acatam os pedidos dos europeus indo atrás das encomendas até que possam fechar a carga e não perder nenhuma das mercadorias. O investimento é alto do lado de quem está comprando.

Não existe mais o navio negreiro, pois agora a carga vai de avião para facilitar e preservar a encomenda. E com tal preservação, os ganhos são maiores. E o mais importante: continuar lucrando e ampliando o mercado – dessa vez, indo para o Continente Africano. É a lógica de “melhor mesclar para não secar a fonte”.


Márcio Chagas da Silva é ex-árbitro de futebol, ativista antirracismo, professor de Educação Física, pai do Miguel e da Joana.

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