Resenha de Osório
Caiu do Céu. Olha o nome do bairro. Dondé que ela vem? Caiu do Céu.
Vem do oceano
vara a lagoa
varre a cidade
bate no morro
volta pros óio
venta em Osório
Sempre uma porta batendo, uma folhinha de calendário querendo voar. Uma lâmina de cortina plásticaplásticaplástica. Sempre uma fresta pros elementos: o vento dá um jeito.
Manter os cabelos pra baixo em Osório, baixar o índice de dor de ouvido. Baita lugar pra treinar fechamento de cigarro na rua, olhando assim pro horizoooonte.
Cataventos tocando vento.
Em Osório escutei a palavra inclusório. A literatura tem que ser um espaço inclusório.
No Museu da Estação Férrea, uma araucária com mais bromélias atracadas nela do que propriamente araucarinhas. Do lado, a cremação: 1300 brasas, dez vezes no cartão.
Brasa é como devia se chamar a moeda nacional, que vai com o vento.
Na rua lagartos atropelados como peixes prateados. No campo pássaros pastando os cavalos pastando.
Parou o vento, vai chover.
É sempre assim aqui? Sempre sim.
Tartarugas, jabutis ou cágados? Atravessando fora da faixa, na lagoinha. Atropelados como lagartos.
Na lagoa média tem que morar no condomínio pra entrar.
Na lagoona, a lenda. Meu bodegueiro interior contando:
– Nunca tem barco, já viu? Nem peixe nem gente, a lagoa dos Barros. A mulher lá, numa noite, o homem matou ela. Levou no meio dum redemunho que tem no meio. A água engole, o redemunho é um oco que venta. Apodreceu a água. Dá pele no peixe que nada, ele escapa. Dá escama na pele da gente, vira canoa. Tudo culpa do alemão que matou a Maria.
Osório é homenagem a milico, viva o Brasil. Antes era Conceição do Arroio, redondilha menor. Antes ainda, tudo guarani: cada várzea aí com uma cara guarani que é uma beleza, disse a Mônica.
Se a água subir e tomar Osório, vão dizer invasão ou retomada?
O bom é a firmeza do areal. Nada mais sólido que areia, o mais debaixo dos estratos. Andar descalço, num gingado de melancia em caminhão. Nada treme, só quando os raios caem na gente.
É uma Vacaria, disse o Ângelo. Só que embaixo.
É.
Paulo Damin é tradutor e escritor, autor de Adriano Chupim (Martins Livreiro). Publicou na Parêntese o folhetim A lenda do corpo e da cabeça.