Trinta anos essa noite
Quando chega essa época do ano, motivado por um bimotor em minhas costas – que pode ser dor, consciência, memória ou desespero –, saio voando em direção ao ano de 1991. É que dali em diante não tive mais mãe, então é para lá que eu vou quando preciso de uma.
Minha mãe tinha trinta e cinco anos quando acordou reclamando de dores na garganta. Uma virose, disseram. O caso evoluiu para uma amigdalite. Depois evoluiu para uma pneumonia bacteriana. Depois evoluiu para o óbito. Nascia para mim uma nova teoria da evolução, uma traição semântica que me mostrou que significados em princípio positivos podem representar o oposto do que parecem. Até ali a palavra evolução era sempre positiva. Eu evoluía nas aulas da professora Luciana: “Não é assim que se segura um lápis”; “E esse caderno cheio de orelhas? Isso é coisa que se apresente?”; “Astros são corpos que existem no espaço. Podem ser estrelas, planetas, satélites…”; “Sujeito e predicado não se separam, Maurício”.
[Continua...]