Crônica

Uma Porto Alegre que vi

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Uma Porto Alegre que vi (Foto: arquivo pessoal)

Desembarquei em Porto Alegre em fevereiro de 2016. Me lembro do calor e da tranquilidade da cidade no verão. Cheguei de Barcelona para morar no Brasil. Já não vivia mais na França, país em que nasci e onde moro. A razão da viagem estava na nova vida com meu companheiro, o que fez com que eu sentisse uma boa sensação por estar na cidade. 

No princípio tentei viver como vivia em Barcelona e não consegui. Quis andar de bicicleta e me deparei com muitos morros, me vi sem alternativa para seguir alguns caminhos. No transporte público tive que prestar atenção. Pegar o ônibus não é coisa fácil. Qual ônibus, em qual parada? Tudo tem que ser previsto antes porque uma estrangeira não pode se ver no improviso. O improviso pode ser perigoso. Lembro disso porque errei de ônibus e me vi nessa situação.

Com o tempo e com a vivência, posso dizer que Porto Alegre choca. A maneira de viver o urbano mostra que ela existe sozinha, é deixada de lado. Tanto ela como os moradores que estão nas ruas, são muitas as pessoas abandonadas. Os cinco anos me fizeram ver como os habitantes do Brasil somos pouco importantes para o governo.

Fui percebendo também que nada é muito fácil na hora de se deslocar. Viver a pé e querer passear de carrinho com seu filho? Il faut s’armer de courage! De coragem e de força para passar pelas calçadas. Eu não entendia bem, e no princípio era difícil me dar conta. Me perguntava: por que as pessoas usam tanto carro? Eu nunca usei carro porque sempre achei mais fácil andar a pé ou de bicicleta. Mas em Porto Alegre muito pouco está feito para se viver assim.

Plantas em pneus coloridos às margens da avenida Ipiranga (Foto: arquivo pessoal)

A sensação que tenho é que a cidade proporciona uma vida restrita porque não se mistura com os moradores. É também nítido como as diferentes classes sociais não habitam o mesmo espaço, e isso foi uma surpresa para mim. Sempre considerei o Brasil, antes de morar em Porto Alegre, como um país que tem uma riqueza intercultural importante. Só que me dei conta que na realidade não tem tanta mistura. Então vejo assim: quem pega o carro não pega o ônibus, quem vai de casa para o clube não vai ao centro, quem mora na casa cercada não vive as ruas e não chega nas periferias. 

[Continua...]

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