Entrevista | Parêntese

David Brookshaw: A suposta ausência de racismo no Brasil virou mito nacional

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David Brookshaw: A suposta ausência de racismo no Brasil virou mito nacional
Por Cláudia Laitano e Luís Augusto Fischer Professor aposentado da Universidade de Bristol, no Reino Unido, onde ensinou literaturas de língua portuguesa, e mais recentemente tradutor para o inglês de autores como Mia Couto, Henrique de Senna Fernandes, Onésimo Almeida e José Rodrigues Miguéis, o londrino David Brookshaw seria a grande estrela de um evento de estudos pós-coloniais marcado para o início de abril em Portugal. Pesquisadores de diversos países iriam se reunir em Lisboa para celebrar sua obra e apresentar trabalhos sobre estudos e traduções produzidos por Brookshaw ao longo de mais de 40 anos de vida acadêmica.  A homenagem, cancelada por motivos óbvios, dá ideia do crescente prestígio de Brookshaw em Portugal, principalmente em função do seu trabalho como tradutor e divulgador de autores lusófonos. Mas foi no Brasil, e de certa forma via Porto Alegre, que surgiu uma das suas contribuições intelectuais mais interessantes e originais: o ensaio Raça & Cor na Literatura Brasileira, em que analisa o negro como autor e personagem.  Quando a editora gaúcha Mercado Aberto publicou o livro no Brasil, em 1983, “lugar de fala” era tribuna, Monteiro Lobato não era racista e Machado de Assis era quase branco. Poucos eram os alunos negros nas faculdades de Letras e menos ainda os autores afrodescendentes sendo analisados em trabalhos acadêmicos. Com a curiosidade e o distanciamento de quem se aproximava da literatura brasileira com olhar de estrangeiro, Brookshaw revelava personagens afrodescendentes sendo retratados de forma estereotipada, mesmo por escritores supostamente liberais, e autores negros sendo ignorados ou esquecidos. Nos últimos anos, com o racismo estrutural brasileiro sendo empurrado a fórceps para fora do armário e cada vez mais alunos afrodescendentes tendo acesso às universidades e à oportunidade de questionar a história e o cânone, o estudo de Brookshaw tornou-se uma referência incontornável para quem estuda a presença (ou ausência) do negro na literatura brasileira. Escrevendo em português, David Brookshaw concedeu a seguinte entrevista por email. Parêntese – Quase 40 anos depois do lançamento, seu livro Raça e Cor na Literatura Brasileira vem sendo muito citado em trabalhos acadêmicos, graças talvez a uma presença mais expressiva de alunos afrobrasileiros nas universidades investigando o assunto. Como começou seu interesse pela nossa literatura e pelo tema do racismo “à brasileira” em especial? Havia algum estímulo para o debate do tema no seu percurso de pesquisa e/ou no seu contexto universitário? O trabalho foi iniciativa sua? Não conseguimos ver se havia edição em inglês, mas parece que foi posterior, certo? Como o livro chegou até a editora gaúcha Mercado Aberto? E, mais importante, por que o livro nunca foi reeditado? David Brookshaw – O meu interesse pelo retrato do negro na literatura brasileira teve sua origem nos meus estudos de licenciatura em Estudos Ibéricos e Iberoamericanos na Universidade de Londres, no início da década de 70. Frequentei um módulo regido pelo renomado “brasilianista” inglês Leslie Bethell, sobre a História da Escravidão e Relações raciais na América Latina e no Brasil. Tive que estudar a obra de Gilberto Freyre, mas […]

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