Parêntese | Reportagem

Depois de enriquecer produtores gaúchos, soja ameaça o Pampa

Change Size Text
Depois de enriquecer produtores gaúchos, soja ameaça o Pampa
Por Karen Viscardi A soja movimenta a economia do Brasil há décadas. Na atual safra, com produção recorde estimada em mais de 123 milhões de toneladas, o Brasil deve alcançar, pela primeira vez, a liderança na produção mundial, superando os Estados Unidos. Se hoje o Mato Grosso aparece como o carro-chefe do plantio brasileiro e os latifúndios do Centro-Oeste costumam ser a imagem mais comum da soja nacional, a história dela por aqui tem relação direta com o Rio Grande do Sul e com a agricultura familiar. Foi no município de Santa Rosa onde se cultivaram, em pequenas propriedades, os primeiros grãos para exportação, há quase um século. No final da década de 1960, com mercados internacionais ávidos pela fonte de proteína e preços atrativos, a oleaginosa começou a se expandir, tornando-se a principal commodity agrícola local e nacional. Hoje, ela corresponde por 60% da colheita de grãos no Estado, equivalente a cerca de 16,5% milhões de toneladas na safra de verão deste ano. Seu cultivo atrai todos os portes de agricultores. Mas, assim como fez a riqueza de alguns, garantiu o sustento de outros tantos e espalhou gaúchos (e seus descendentes) por todo o Brasil, o domínio do grão dourado na paisagem trouxe impactos nem sempre positivos. Muitos produtores deixaram de lado a pecuária e outras culturas, como o milho e o trigo, levando a um monocultivo que ocasiona problemas ambientais e sociais, além do risco econômico de uma queda de safra. Este ano, por exemplo, por conta da estiagem, a colheita irá encolher para 16,5 milhões de toneladas, 16,2% a menos do que o esperado no início do plantio, conforme levantamento da Emater-RS. A natureza também sofre, com os agrotóxicos usados antes e durante o plantio de soja afetando outras espécies de plantas e a criação de abelhas. Em tempos recentes, após dominar a metade norte do Estado, a ampliação se deu também sobre o sul: a busca por mais campos para a soja encabeçou o avanço da agricultura em quase 1 milhão de hectares do bioma Pampa. Da Ásia a Santa Rosa – e à Ásia novamente As sementes de origem asiática ganharam relevância em solo gaúcho em 1923, segundo relata Geraldo Geisse no livro “A Rainha do Agronegócio – A História da Soja no Brasil”. De acordo com o autor, foi nessa época em que Albert Lehenbauer, um pastor luterano norte-americano, levou para Santa Rosa as primeiras sementes que seriam exportadas: embora a soja já estivesse presente no RS e em outros estados, foi dali que saíram as primeiras exportações do Brasil. No noroeste gaúcho, estimulou o uso da oleaginosa na alimentação humana e animal. Não tardou para a região atrair empresas, como a cerealista Ortmann & Cia., de Santo Ângelo, que abriu filial em Santa Rosa já em 1935 e incentivou os colonos a plantarem cada vez mais o grão. Depois, vieram outras, como a Incobrasa, que começou a extrair farelo e óleo. De propriedade do ex-governador Ildo Meneghetti, a Incobrasa também contava com investimento […]

Quer ter acesso ao conteúdo exclusivo?

Assine o Premium

Você também pode experimentar nossas newsletters por 15 dias!

Experimente grátis as newsletters do Grupo Matinal!

ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.