Parêntese | Poesia traduzida

Élvio Funck: Soneto 5, de William Shakespeare

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Élvio Funck: Soneto 5, de William Shakespeare Tradução interlinear e comentários por Élvio Funck Those hours* that with gentle work did frame Aquelas horas que, com suave e lento labor, formaram The lovely gaze where every eye doth dwell teu belo rosto, que atrai tantos olhares, to the very same Will play the tyrants, serão também as tiranas daquele mesmo rosto,  And that unfair which fairly doth excel; tornando feio o belo que supera tudo quanto é belo. For never-resting time leads summer* on Pois o tempo, que nunca descansa, empurra o verão para a frente To hidous winter* and confounds him there, e o leva para o hediondo inverno, onde o destrói; Sap* checked with frost, and lusty leaves quite gone, a seiva fica tolhida pela geada, as folhas viçosas se vão, Beauty o’er-snowed,* and bareness* everywhere, a beleza se cobre de neve e por tudo impera a nudez; Then were not summer’s distillation* left se, então, a destilação das flores estivais delas não fizesse A liquid prisoner pent in walls of glass, um líquido prisioneiro, preso em paredes de vidro, Beauty’s effect with beauty were bereft, o efeito da beleza desapareceria com a própria beleza; Nor it nor no remembrance what it was. não haveria nem beleza nem lembrança do que era. But flowers distilled, though they with winter meet, Mas as flores destiladas, embora as destrua o inverno, Lose but their show; their substance still lives sweet. perdem apenas a aparência; seu perfume é eterno. O eu poético usa a imagem do fenômeno físico chamado “destilação”: quando destiladas, as flores perdem sua aparência, mas sua essência fica preservada num frasco de perfume; o eu poético usa essa original metáfora em mais uma tentativa de convencer o amigo a casar e ter filhos, a preservar sua “essência” em filhos. Aspectos particulares de alguns termos: hours: horas, no sentido mais amplo de “tempo”: o tempo constrói e o tempo destrói; o tempo, lentamente, transforma um bebê num belo e pujante homem e o belo homem num desfigurado e fraco ancião. summer, winter: verão: juventude, vida, exuberância sexual; inverno: velhice, impotência, morte. sap: seiva, esperma, vitalidade sexual; a “geada” da velhice tolhe a vitalidade sexual. As folhas viçosas caem: a calvície. o’er-snowed, bareness: a beleza desaparece sob os cabelos brancos, na velhice; bareness, nudez, conota a deficiência, na velhice, dos sentidos e dos membros: olhos, ouvidos, tato, paladar, pernas, potência sexual; como diz Shakespeare alhures: sans teeth, sans eyes, sans taste, sans everything (sem dentes, sem olhos, sem paladar, sem nada). O quadro apresentado nos dois primeiros quartetos é muito negativo e deprimente. É preciso achar um remédio que reverta a situação: ter filhos. Este remédio está no terceiro quarteto do soneto. summer’s destillation: as belas rosas do verão (a beleza do amigo) seriam destruídas se não as destilássemos e as transformássemos em um perfume. Desaparecem as aparências das rosas (a beleza do amigo desaparece com a velhice), mas permanece sua essência, o perfume (o filho). Como bem lembra Booth (p. 141), o líquido prisioneiro preso num […]

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Tradução interlinear e comentários por Élvio Funck Those hours* that with gentle work did frame Aquelas horas que, com suave e lento labor, formaram The lovely gaze where every eye doth dwell teu belo rosto, que atrai tantos olhares, to the very same Will play the tyrants, serão também as tiranas daquele mesmo rosto,  And that unfair which fairly doth excel; tornando feio o belo que supera tudo quanto é belo. For never-resting time leads summer* on Pois o tempo, que nunca descansa, empurra o verão para a frente To hidous winter* and confounds him there, e o leva para o hediondo inverno, onde o destrói; Sap* checked with frost, and lusty leaves quite gone, a seiva fica tolhida pela geada, as folhas viçosas se vão, Beauty o’er-snowed,* and bareness* everywhere, a beleza se cobre de neve e por tudo impera a nudez; Then were not summer’s distillation* left se, então, a destilação das flores estivais delas não fizesse A liquid prisoner pent in walls of glass, um líquido prisioneiro, preso em paredes de vidro, Beauty’s effect with beauty were bereft, o efeito da beleza desapareceria com a própria beleza; Nor it nor no remembrance what it was. não haveria nem beleza nem lembrança do que era. But flowers distilled, though they with winter meet, Mas as flores destiladas, embora as destrua o inverno, Lose but their show; their substance still lives sweet. perdem apenas a aparência; seu perfume é eterno. O eu poético usa a imagem do fenômeno físico chamado “destilação”: quando destiladas, as flores perdem sua aparência, mas sua essência fica preservada num frasco de perfume; o eu poético usa essa original metáfora em mais uma tentativa de convencer o amigo a casar e ter filhos, a preservar sua “essência” em filhos. Aspectos particulares de alguns termos: hours: horas, no sentido mais amplo de “tempo”: o tempo constrói e o tempo destrói; o tempo, lentamente, transforma um bebê num belo e pujante homem e o belo homem num desfigurado e fraco ancião. summer, winter: verão: juventude, vida, exuberância sexual; inverno: velhice, impotência, morte. sap: seiva, esperma, vitalidade sexual; a “geada” da velhice tolhe a vitalidade sexual. As folhas viçosas caem: a calvície. o’er-snowed, bareness: a beleza desaparece sob os cabelos brancos, na velhice; bareness, nudez, conota a deficiência, na velhice, dos sentidos e dos membros: olhos, ouvidos, tato, paladar, pernas, potência sexual; como diz Shakespeare alhures: sans teeth, sans eyes, sans taste, sans everything (sem dentes, sem olhos, sem paladar, sem nada). O quadro apresentado nos dois primeiros quartetos é muito negativo e deprimente. É preciso achar um remédio que reverta a situação: ter filhos. Este remédio está no terceiro quarteto do soneto. summer’s destillation: as belas rosas do verão (a beleza do amigo) seriam destruídas se não as destilássemos e as transformássemos em um perfume. Desaparecem as aparências das rosas (a beleza do amigo desaparece com a velhice), mas permanece sua essência, o perfume (o filho). Como bem lembra Booth (p. 141), o líquido prisioneiro preso num […]

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