A língua de Saramago
O escritor mais festejado de 2022 foi um ancião que teria completado 100 anos em novembro. Ele não nasceu em berço esplêndido, pelo contrário, seus avós eram camponeses que, no inverno, levavam os porcos para dormir com eles, com medo de que morressem de frio e eles ficassem sem o ganha-pão. Com dois anos, o menino foi com o irmão e os pais morar na cidade grande. O irmão Francisco morreu logo a seguir, mas o miúdo sobreviveu.
Frequentou escolas públicas e só comprou seu primeiro livro com 18 anos, e mesmo assim com dinheiro emprestado. No curso para serralheiro mecânico, provou a cereja do bolo: Literatura e Francês. E passou a se refugiar nas bibliotecas públicas de Lisboa. Depois de trabalhar como mecânico, depois de se casar com Ilda e ter sua única filha, Violante, arriscou-se na escrita.
O primeiro romance fracassou. O segundo, esse proibiu de ser publicado enquanto estivesse vivo. Já o foi. Se não tinha a Musa a seu favor, foi para o outro lado: editor, crítico literário, tradutor, jornalista. E conheceu Isabel, a divina, aquela que conhecia todo mundo e que, dizem as más línguas, preparou o caminho para o intelectual brilhar.
[Continua...]