Memórias emocionadas

Armindo Trevisan: o fazedor de encontros

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Armindo Trevisan: o fazedor de encontros Armindo Trevisan. Foto: Editora Melhoramentos/Divulgação
E, porque estamos para publicar um livro juntos, depois de quatro décadas de amizade… E, porque também ali escrevi muito sobre ele, torna-se enorme o desafio de escrever algo novo em torno de Armindo Trevisan. Carece dizer que se trata de um de nossos poetas maiores (do RS, do Brasil) e não haveria espaço para texto requentado. Fundamental, à la Maiakovski, juntar palavras nunca dantes juntas para dar conta da poesia que ele vem fazendo há tanto tempo. Então, fiquei matutando sobre a longevidade do poeta, que chega aos noventa anos com uma saúde graúda, sobre a qual poderíamos dar vários exemplos, embora qualquer câmera de segurança no Shopping onde tomamos café pudesse mostrar claramente. Por contraste. O contraste pode ser visto à subida (ou descida) da escada-rolante, quando, aos sessenta, já hesito em entrar (ou sair) no primeiro degrau, movido por uma lombar castigada por seis décadas, enquanto o amigo o faz lépido, com uma jovial presteza. A todas essas, reflito sobre o que (faz décadas) ando lendo a respeito da longevidade de um ser humano, o que vem aumentando, felizmente, e dando razão à máxima daquele outro poeta, o Leminski, quando apregoava que a vida havia se tornando crônica. Um estudo do jornal Le Monde, ainda nos anos 2000, repassou o que hoje tão bem sabemos e que envolve hábitos alimentares, exercícios físicos, mas destacando um ponto em comum para os ali estudados. Era algo emocional e correspondia a guardar poucos ressentimentos. Fazia sentido. Não havia como chegar aos cem anos sem ter vivido perdas pungentes de gente querida e muito próxima. Sem, depois de acumular capítulos difíceis, poder virar a página para o começo do próximo parágrafo, vida que segue. Um neurologista mais sintético me garantiu que a receita é: Ter amigos. Fazer exercícios.Comer folhas verdes. Confesso que não sei o quanto Armindo come folhas verdes ou faz exercícios, mas amigos eu sei que não lhe faltam. E aqui tem um detalhe que me parece decisivo para a longevidade do poeta: amigos em torno da poesia. Trevisan sempre foi um fazedor de encontros. Desde quando buscava o seu lugar ao sol e procurava autores e autoras clássicas para pedir conselhos, o que continua fazendo junto a colegas com quem, ainda hoje, conversa sobre o artesanato de seu poema mais recente. Isso inclui não apenas figuras tarimbadas como jovens principiantes como ele era, ontem ainda. Isso inclui conhecidos, desconhecidos e outros esperançosos de, um dia, acertar como ele tanto acerta, e com quem conversa entusiasmado como um menino. Quanto à poesia, há uma história folclórica para quem o conhece. Não é incomum o poeta chegar e alcançar um volume de originais, ávido por um olhar isento, e garantir que aquele é o último, que a fonte secou, que a sua obra se tornou definitiva. Ledo engano. Novos volumes virão, basta esperar o próximo café. Porque, em Armindo, o prolífico se une ao longevo, e ambos são capazes de se manterem rigorosos com o nível da poesia e da amizade, […]

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