Memórias emocionadas

Una rosa blanca

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Una rosa blanca Irmã Maria Luiza (Leonilde) Superti
A Irmã Maria Luiza Superti, a professora mais importante da minha vida, partiu, na terça-feira, 13/6, aos 95 anos, com sua letra redonda, elegante e decidida.  Nascida em 1928, em Passo Fundo, era formada em Letras Neolatinas, na PUCRS. Implicante, divertida, inteligente, culta, atrevida, moderna, arrojada, ensinava muito mais que Português, Literatura e Espanhol às inquietas meninas adolescentes do Sagrado Coração, naquela Ijuí dos anos 1960, cidadezinha de imigrantes alemães, italianos e de tantas outras origens, debaixo de um céu de ditadura militar e os ventos rebeldes de Geraldo Vandré. Despertava em cada uma de nós o desejo de sermos protagonistas de nossas próprias vidas e o dever de nos aculturarmos à custa de miles de desafios, que incluíam escrever pelo menos cinco redações mensais com temas que ela determinava e que viravam matéria viva do valente jornalzinho “O Bom”, que eu editava todo mês, lançando articulistas inéditos aos aplausos da comunidade do Colégio Sagrado Coração.  – Normalistas do Colégio Sagrado Coração, de Ijuí, com Ir. Maria Luiza Superti (esquerda) e Madre Margarida Zilles (direita), ano 1969. Não penses que ela era boazinha. Não! Sua voz de lata cortava nossos ouvidinhos cotidianamente, inspirando voos na marra, quer quiséssemos, quer não. Todo mês, nos transformávamos também em atrizes e atores, compulsoriamente, com a obrigação inadiável de falar lá na frente, sem papel na mão, de cor, durante cinco minutos, sobre o assunto que quiséssemos, desde que com começo, meio e fim, voz clara, em tom audível e bem emitido, para os colegas lá do fundo ouvirem.  Lembro que eu falava – imagina! – de gênios da música como Bach, Mozart, Schubert, pesquisados na gloriosa Barsa, o Google orgânico de então. Fora isso, ela nos mandava criar sketches rápidos e representar também lá na frente, como se estivéssemos no palco de um grande teatro. Ah, e fazíamos interpretação de texto direto, que era pra ampliar a compreensão do mundo, das coisas, dos outros.  Tu podes não acreditar, mas no fatídico ano de 1968, olha o texto que Irmã Maria Luiza nos passava para interpretar: nada mais nada menos que a letra de “Pra não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré, aquela do “Caminhando e cantando”, subversiva até o último ré menor. “O que o autor quis dizer com ‘somos todos soldados, armados ou não’?” – ela perguntava, batendo aqueles cílios transparentes com falsos ares de sonsa. Verdadeira maluquinha beleza! Ah, e podias morrer perguntando o que significava uma palavra difícil – qualquer que fosse! -, ela não respondia, nem com banda de música, apenas cruzava os braços e retrucava desafiadora: dicionário existe para quê?  Cabelos cor de fogo escapando pelo véu, quando ela implicava com alguém, sai de baixo! Eu, metida a defensora pública doméstica, saltava em defesa da pobre vítima das suas perorações, mas ela sumariamente me podava com a gelada sentença: – por acaso eu chamei algum advogado de defesa, Maria da Graça? Irmã Maria Luiza tinha personalidade forte e nos inspirava a lutar por nossas batalhas. […]

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