Minha mãe, meu pai e o poeta
Eu já tinha ouvido falar de Dantas Motta. Era um nome ao longe, muito ao longe. Alguém me teria dito que minha mãe namorou Dantas Motta. Eu nunca quis saber, mesmo metida com as Letras. Sim, havia um livro de Dantas Mota numa prateleira escura do escritório de minha mãe e de meu pai e, não tenho dúvidas, se soubesse o que sei, ele estaria aqui, na minha estante.
Agora, ao ler as cartas de minha mãe e de meu pai, fechadas por mais de dez anos em uma mala e em uma caixa, soube, com espanto, que meu pai e minha mãe “namoraram escondido”. Meu pai fala da “nossa dolorosa situação de clandestinidade…”, dos “motivos que nos impõem constante e invariável separação”, reclamando sempre das “viagens providenciais” dela.
Fico perplexa: como assim, clandestinos? Meu pai e minha mãe?
[Continua...]