Ensaio

O jornalismo certo do lado errado

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O jornalismo certo do lado errado

Alegria, tristeza, raiva, esperança, desilusão. É inútil sondar o verdadeiro estado de ânimo brasileiro nas notícias da grande mídia, as corriqueiras e as extraordinárias. Um derrame de subjetividade política afoga as notícias, tanto as que circulam como as que morrem antes de nascer. O jornalismo da grande mídia é atravessado por uma vala comum de notícias abortadas. É o corredor preferido dos muambeiros ideológicos para cruzarem a linha divisória entre informação e opinião. 

O contrabando ideológico corre solto nas redações. Assim como o tráfico pesado das redes sociais, fazer a cabeça das pessoas compensa qualquer risco, inclusive a perda da alma do jornalismo.

Paranoia à parte, o modelo clássico da notícia agoniza como fonte de conhecimento peculiar de uma etapa vencida da sociedade industrial. Moribunda, a notícia exala a sensação de servir de cabide à opinião de encomenda. A caduquice começou bem antes das redes sociais. Vem de longe, historicamente, a tentação de fazer a cabeça das pessoas.  

Mais de metade da nossa população migrou do campo para a cidade no século passado, em movimento massivo espontâneo. Uma ordem de despejo coletivo totalitária não provocaria o mesmo efeito. Desordenado, à luz do dia, não ganhou manchetes ao longo das décadas que perdurou. Até hoje o jornalismo da grande mídia ignora as sequelas do caótico amontoamento urbano. 

Um raro relato da epopeia pau de arara, que acabou presenteando um presidente da república ao Brasil, dormiu por meses numa gaveta da redação da revista O Cruzeiro, então a maior. Desculpa: os personagens eram feios e pobres. Desengavetada por insistência do repórter e do fotógrafo, acabou levando o prêmio Esso.

O jornalismo da grande mídia se sente obrigado a esconder alguns brasileiros dos outros, o Brasil pobre do Brasil rico. É a senha para a investida dos muambeiros ideológicos. O contrabando político passa fácil em meio ao estrondo da catarata de notícias enxertadas de opinião. Sabichonas e sabichões de fina estampa se encarregam de distrair a atenção do respeitável público. 

[Continua...]

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