Quando Pinóquio aderiu ao fascismo III
LIVRO 3: Pinóquio, instrutor de Negus [Pinocchio, istruttore del Negus]
A trama de Pinocchio, istruttore del Negus (sem identificação de autor) se desenvolve em 1939 e tem como pano de fundo as conquistas italianas no Norte da África. Atendendo ao sonho de Mussolini de transformar a Itália novamente em um grande império, aos moldes do Império Romano, em maio de 1936 as tropas italianas tomaram Addis-Abeba, a capital da Abissínia (hoje Etiópia), abrindo caminho para a conquista italiana que se concretizaria oito meses adiante. A campanha foi desgastante, os 500 mil soldados italianos se deslocavam com lentidão, e os ataques foram cruéis, tanto que foram posteriormente condenados pela Liga das Nações. O imperador abissínio, Haile Selassié, refugiou-se na Inglaterra, país que aparece no enredo como principal inimigo dos italianos. A resistência dos abissínios foi intensa e duramente reprimida, ainda assim, a empreitada colonialista italiana se estendeu somente até 1941, ocasião em que Mussolini se viu obrigado a ceder às pressões britânicas e desocupar o território.
Em Pinóquio, instrutor de Negus, o boneco é um auxiliar de confeitaria, que após ter derramado sobre si um caldeirão de chocolate sai correndo em disparada enquanto seu patrão o chama, aos gritos, de abissínio, por causa da coloração que tomou. Um inglês que vê a cena se impressiona com a aptidão do boneco para corrida e, acreditando que Pinóquio vem do país africano, acaba por levá-lo a Abissínia para treinar os soldados daquele país que aparentemente se mantinham organizados em núcleos de resistência, para que superassem o exército italiano. Escárnio e deboche atravessam a trama com intuito de inferiorizar o inimigo africano. A capa dá dimensão do que está disposto no texto. No fim dos acontecimentos, Pinóquio é localizado e salvo por um avião italiano após ter chamado a atenção agitando com ímpeto a bandeira tricolor.
Pinóquio, instrutor de Negus
Editora Marzocco – Florença 1939, 52 páginas
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