Ensaio | Parêntese

Fabio Pinto: Distopia portenha, Parte II

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Fabio Pinto: Distopia portenha, Parte II
Uma breve história de O Eternauta e de seu criador, Héctor Germán OesterheldSegunda parte(ver Primeira parte) O Eternauta é uma história de ficção científica em quadrinhos com um enorme potencial de significação e de diálogo com o presente. Desde 1957, quando foi publicada pela primeira vez, vem se expandindo, alcançando leitores de diferentes gerações que ainda se impressionam com uma estranha nevasca e com um sinistro grupo de invasores alienígenas. Tão impressionante quanto essa história, é a de seu criador, Héctor Oesterheld, e a da simbiose entre a luta coletiva de seus personagens e a de que escolheu fazer parte, nos pesados anos 70.   Héctor Oesterheld foi sequestrado por agentes da ditadura militar argentina, na cidade de La Plata, no dia 27 de abril de 1977. Em seguida, foi levado para um centro clandestino de prisioneiros, o primeiro de vários em que esteve antes de desaparecer, em meados de 1978. Eduardo Arias, um dos poucos que dividiu cativeiro com Oesterheld e sobreviveu para contar, assim descreve o encontro com o roteirista no ‘chupadero’ conhecido como El Vesubio: “Uma das lembranças inesquecíveis que tenho de Héctor é a da noite de natal de 1977. Os guardas nos deram permissão para tirar os capuzes e fumar um cigarro. E nos deixaram conversar uns com os outros durante cinco minutos. Héctor disse, então, que por ser o mais velho dos prisioneiros ali presentes, queria saudar um por um. Nunca esquecerei daquele último aperto de mão. Héctor Oesterheld tinha sessenta anos na época. Seu estado físico era muito, muito penoso”.  Personagens de Héctor Oesterheld e a pergunta ainda sem resposta: “Onde está Oesterheld?”. Cartaz de Felix Saborido publicado na revista Feriado Nacional em 27 de outubro de 1983  A história do captura, tortura e desaparição de Oesterheld começa algum tempo antes, quando um determinado grupo de jovens militantes comete um ato extremo. Em maio de 1970, o núcleo do que viria a ser a dirigência dos Montoneros sequestra o general Pedro Eugenio Aramburu e o transforma em bode expiatório, atribuindo-lhe responsabilidade por três crimes que exigiam vingança: o sequestro do cadáver de Eva Perón, o bombardeio de 1955 e os fuzilamentos de 1956. Cabe aqui dizer algumas palavras sobre cada um desses crimes.  Evita Perón faleceu no dia 26 de junho de 1952, vítima de um câncer no útero, aos 33 anos. Milhares de pessoas participaram do velório da figura feminina mais importante do país. Depois de embalsamado, o corpo de Evita ficou disponível à visitação pública na sede da Confederação Geral do Trabalho (CGT) até o dia 23 de novembro de 1955, quando foi sequestrado por um comando militar. Os militares temiam que o corpo se tornasse uma espécie de bandeira simbólica da resistência peronista. O cadáver seria transladado clandestinamente, durante os sucessivos governos militares, para lugares secretos, sendo levado inclusive para a Europa, de onde retornaria somente em 1976, quando foi entregue à família e enterrado no Cemitério da Recoleta, em Buenos Aires.  Alguns meses antes do sequestro do corpo de Evita, […]

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