Folhetim

A lenda do corpo e da cabeça – Capítulo 1: O bandoleiro Paco

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A lenda do corpo e da cabeça – Capítulo 1: O bandoleiro Paco

Talvez mexicano, magonista. Francisco Sanches, 1889. Mestre da bisca e das tampinhas. Pilhava galpões e armazéns atrás de alimentos superfaturados. Distribuía o saque entre os mais pobres do Belém. 

Quando queria mulher, ia e pegava, segundo os pais de família.

Parece que foi chimango, depois enjoou. O exército botou anúncio de vivo ou morto, com recompensa de duzentos mil réis. Na foto que circulava, cinco revólveres na cintura, outro na mão. Sobre os ombros, dois mosquetões. Um xis de cartucheiras cobrindo o peito. 

Em 1923, andava a cavalo com a espingarda escondida no pelego. Conhecia as pegadas dos revolucionários que iam para a Serra. Não seguiu o grupo do Josué Pandolfo no rumo de Arambaré porque não era de seguir grupo. O estilo dele era de quero-quero, ave de rapina mais malandra que urubu.

Se precisasse visitar alguém no hospital, vestia-se de viúva.

Escondia-se na Cascata e na Maria Degolada. Dia de festa, botava banca com o jogo da tampinha. O primeiro sempre ganhava, os demais nunca. Ele mudava com o dedo as tampinhas de lugar. E havia mais de uma bolinha debaixo delas. Ou nenhuma.

Num domingo, entrou na missa encarando os homens um a um. Pensou que o Carlos Cattani fosse o velho Mendes, que eram muito parecidos. Chamou para fora, tentou dar um tiro, mas a arma não funcionou. Só quando ele chegou lá embaixo, no negócio do Julio Dias, é que o revólver disparou. O padre tinha dado uma bênção para que a arma não funcionasse.

Ele desafiava. Mandava dizer que vinha na freguesia tal dia, tal hora. A gente dele ficava espionando. Homem de fora no negócio do Julio Dias pode apostar que era capanga do Paco.

Em noite de lua sol, pescava no Guaíba. Espoliava os barcos desavisados. 

Tinha uma relação complexa com a própria sombra.

Não usava bigode.

O causo é que, na antiga casa do Ardelino, entre a casa atual e a antiga, onde fica o açude, tem um marco. Ali um louco matou um homem. Cortou fora a cabeça com um machado. Tem uma cruz lá, alguém sempre leva flores. Depois que ele cortou fora a cabeça, jogou longe, porque tinha medo que ela voltasse a grudar novamente.

Não tem nada a ver com o bandoleiro Paco.


Paulo Damin é tradutor e escritor, autor de Adriano Chupim (Martins Livreiro).

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