Folhetim

A lenda do corpo e da cabeça – Capítulo 8: A morte do bandoleiro Paco

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A lenda do corpo e da cabeça – Capítulo 8: A morte do bandoleiro Paco
(No capítulo anterior, Ideralda tira o corpo do buraco, faz amizade com ele e vai procurar uma cabeça digna) O bandoleiro Paco acendeu o palheiro, cuspiu o saborzinho doce da primeira tragada e disse para a própria sombra:  – Acorda, vamos. A sombra, encontrando rapidamente um argumento com o qual ferir o companheiro, respondeu que antes de tudo precisavam tomar um trago para firmar o pulso.   Aí o bandoleiro Paco cuspiu de novo, agora o amarguinho da última tragada, e disse que deviam por força inverter a lógica que sempre os tinha guiado. Portanto, nem escapar de Porto Alegre, nem ceder à tentação do álcool. Então passou pela mente da sombra a memória da vez em que, fugindo do exército paraguaio, chegaram às margens do arroio Jacareí, em Porto Alegre. Ali, despistaram os milicos graças à ardilosidade de Paco, que disse ao arroio:  – Corre para a direita, amigo, que assim que amanhecer te damos em troca nossa solidez de caráter. O arroio gostou da proposta e, na manobra, arrastou consigo os canhões que perturbavam o bandoleiro. No dia seguinte, quando o Jacareí cobrou a solidez do caráter de Paco, recebeu em troca apenas uma risadinha. Então o arroio, furioso, inflou-se e começou a correr para todos os lados. E é por isso que hoje esse arroio se chama Dilúvio e causa terríveis alagamentos nas terras que o circundam. Depois de ter esse pensamento, a sombra percebeu que tinha encontrado outro argumento com o qual ferir seu companheiro: – Espero que dessa vez tu saiba nos livrar do perigo sem ter que mentir pra rio algum. O bandoleiro Paco deu mostras de magnanimidade e ignorou a provocação da sombra. Fez sinal pra que ela se calasse, para escutarem melhor os berros característicos do Morro do Hospício.  – Todo assassino deseja ser encontrado – filosofou o bandoleiro Paco. – Nunca resistem ao prazer de receberam a punição, isto é, o reconhecimento pelo seu horrível talento. Quem separou o corpo da cabeça foi um louco. Logo, ele passará pelo Morro do Hospício. – Diz algo que eu não saiba – comentou a sombra, sempre com aquele tom de quem precisa ferir o companheiro. E, antes que o bandoleiro Paco precisasse dizer a ela o que fazer, a sombra deslizou pela estrada de terra até o centro da encruzilhada. Lá, ela esperaria que o louco se aproximasse. Enquanto isso, Paco ficou escondido atrás da árvore, mastigando pacientemente sua solidez de caráter. A lua estava encoberta por nuvens, mas isso podia mudar a qualquer momento e o bandoleiro Paco, longe de sua sombra, não queria correr riscos de ser visto pelos sentinelas do quartel.  Foi então que os berros do Hospício diminuíram de intensidade e ouviram-se passos típicos de um assassino. Ele cambaleava corcunda. A cabeça já lhe estava pesando mais do que o pescoço conseguia suportar. Quando chegou na encruzilhada, a sombra esticou a perna e o louco caiu de cara na terra úmida. O bandoleiro Paco saiu de trás da árvore. Postou-se […]

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