Capítulo 7: Resistiré a não ler nada que preste e a outros absurdos assemelhados há mais de uma semana?
Depois do almoço em comunhão com a família que, à medida que terminava de comer, lentamente retornava para o plano onde eram mais plenos ou menos perturbados, Ella é chamada para falar por telefone com o filho e com o companheiro, as duas pessoas que ancoravam seu estar por aqui há tanto tempo. Correu ao encontro dos dois de sempre. Estava louquinha para ouvir as vozes de todo dia, doutora!
A voz do filho! Era quase divina, se isso existisse! Aquele som de uma voz cheia de perguntas e de interesse sobre ela simbolizava a liberdade chegando. Tu tá bem, mãe? Saudades de ti, melhora logo! O meu cachorro tá doido aqui, te procurando pela casa inteira. Separei e já deixamos ontem aí umas roupas mais quentinhas pra ti. E uns livros que deduzi que tu tava lendo, mais umas revistas. Vamos ver se passa pelo índex que rege o que pode ser lido, segundo as regras do hospital. Limpei a casa pra te esperar, viu? Deixei o escritório, o teu refúgio, o teu espaço de encontrar teus vários mundos, do mesmo jeito. Sempre tão arrumado, até quando tu tá meio sem bússola, só desliguei o computador, coitado, há dias rodando sem destino, sem te achar.
Ella mal respondia, não queria perder tempo se ouvindo, só queria ouvir os outros. Mais ou menos os outros. Com o companheiro a coisa foi puxada pro excessivamente lacônico:
– Saudades de ti, Ella.
[Continua...]