Folhetim

Capítulo Final: Resistiré sim… ao reencontro com a vida lá fora e com as gentes de sempre…

Change Size Text
Capítulo Final: Resistiré sim… ao reencontro com a vida lá fora e com as gentes de sempre…

Os dias que se seguiram ao retorno de Bruno para o quinto andar daquele lugar nenhum foram de silêncio das duas partes. Ella não queria deixar Bruno constrangido em conversa sobre a fuga frustrada e a rápida devolução brutal que sofreu. Bruno não tinha o que declarar, estava estampado em seu desânimo que se refletia num quase dormir eterno, num quase não comer, num quase não falar, num resguardo das entranhas lá dele.  

No terceiro ou quarto dia depois da volta de Bruno, Ella teve uma consulta com a psiquiatra no mesmo horário do meio-dia de sempre. Estava sob controle, segundo a médica, bem melhor sim. Para Ella, lá por dentro, a medicação, feito planta invasora, estava tomando conta do jardim das ideias dela. Às vezes os comprimidos brancos de mais de um tamanho até perdiam pras encrencas que Ella carregava, mas em seguida recuperavam o controle com certa facilidade e com uma autoridade estúpida. Sairia no dia seguinte, com recomendação de buscar uma assistência psiquiátrica para acompanhar a medicação, e uma psicoterapia, pois iria precisar pra se manter no prumo. Concordou, naquelas. Precisava, né…

Na finaleira da última consulta de Ella naquele lugar tristonho, ela puxa um sorriso por baixo da máscara e agradece à médica, que fez de conta que não entendeu:

– Obrigada, doutora! O Valdomiro anda limpinho, arrumadinho, cheiroso até! O mundo avança, aos pouquinhos, mas vai, né? Ele parece mais feliz assim de mais banho tomado. Agora tem gente por perto, sem medo do cheiro dele, sem nojo dele existir. Viu como ele sentia? Todo mundo sente…

Naquele último dia ali, almoçou outra vez sem seus parceiros de andar, e acompanhada de novo por tio Fênix e por sua trupe viciada em reprisar sempre o mesmo louco espetáculo. O olhar parado do tio-avô, que só conhecia pela fotografia do túmulo do Cemitério do Canto, baixou sobre Ella com uma candura que nunca havia experimentado. Compaixão pura, mas sem mão estendida convidando para um salto no escuro, e sim de braços cruzados e expressão serena, inquiridora, do bem, meio paternal até, como quem espera com paciência uma decisão dela sobre qual dos caminhos que se bifurcavam ali em frente ela seguiria: 

[Continua...]

O acesso a esse conteúdo é exclusivo aos assinantes premium do Matinal. É nossa retribuição aos que nos ajudam a colocar em prática nossa missão: fazer jornalismo e contar as histórias de Porto Alegre e do RS.

 

 
 
 

 

 

 

 
 
 

 

 
conteúdo exclusivo
Revista
Parêntese


A revista digital Parêntese, produzida pela equipe do Matinal e por colaboradores, traz jornalismo e boas histórias em formato de fotos, ensaios, crônicas, entrevistas.

Quer ter acesso ao conteúdo exclusivo?

Assine o Premium

Você também pode experimentar nossas newsletters por 15 dias!

Experimente grátis as newsletters do Grupo Matinal!

RELACIONADAS
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.