Inferninho – Capítulo 4: La Rosa
A festa no Kimbal foi… como posso dizer, alcoólico-sado-libertina. A última cena de que me recordo é a do Tropeço no queijinho dançando lambada com a Angel, estava só de cueca e tinha a gravata do seu Manso amarrada na cabeça. Depois disso, apaguei. Agora, estou na roda gigante do parque da Redenção, completamente nu, minha professora da quinta série ao lado, está tudo preto e branco, desço do brinquedo e tento correr mas não saio do lugar, até que ela começa a falar algo que não entendo, bem próxima do meu rosto, furiosa, seus perdigotos me atingem direto na cara, o chão se abre e começo a cair, cair, cair sem parar… Acordo de sobressalto. Estou de frente para um daqueles enormes climatizadores que pulverizam água no ambiente. Os cabelos encharcados. A cabeça pesa uma tonelada. Na boca, um gosto de sombrinha velha. Essa decoração eu conheço bem, sim, sem dúvidas, é o La Rosa, mas reformaram aqui, não lembro do telão na parede lateral. Também nunca tinha percebido essa Santa, em tamanho real, num altar próximo à copa cercada de cigarros, velas, rosas, cuecas e calcinhas. Contudo, definitivamente, era o La Rosa. A casa estava relativamente cheia. Nem sinal do Tropeço. Pelo menos o Bode, garçom amigo nosso, estava ali, equilibrava na bandeja uma rodada de Keep Cooler. Bode era como chamávamos o Jorge. Usava uma barba falhada, mais comprida no queixo, que lhe rendeu o apelido. Trabalhou na firma do pai do Tropeço durante muitos anos, à noite, atendia no La Rosa. Isentava a nossa entrada e servia umas doses bem maiores pra gente, mediante gorjetas generosas, é claro, porque ele era Bode, não burro.
[Continua...]