Folhetim

Inferninho – Capítulo 6: Sofazão e o pacto com a Malllvada

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Inferninho – Capítulo 6: Sofazão e o pacto com a Malllvada

A dona Celeste, mãe do Tropeço, que deus a tenha, ou o diabo, vai saber, teve um caso com o Padre Roque. Daí que pra irritar o Tropeço a chamávamos de mulher do Padre. Ele ficava puto da cara, partia pro tapa. As primeiras vezes que fomos ao Sofazão evitávamos o Padre Roque, que sempre dava um jeito de se chegar com uma garrafa de cortesia. “Oh, pra vocês, por conta da casa”. Ali o esquema era outro. Tudo muito asséptico, o som baixinho que dava pra escutar as conversas e gargalhadas da família tradicional brasileira. Os casais mais tímidos, ou iniciantes, buscavam as mesas afastadas, na penumbra. Também se ouviam, vez que outra, gemidos mais empolgados que vinham da suíte coletiva. Uma noite, espiando pela porta de vidro, contei doze pés sobre a imensa cama redonda. Os garçons usavam camisa polo, as gurias da casa, que davam conta dos homens e mulheres solteiras, usavam saia colegial, nunca entendi isso, acho que era um fetiche do Padre Roque. Nos aproximamos da mulher de capa preta. O Padre fez um sinal e ela se virou em nossa direção. “Olha só se não é o outro sortudo ganhador da promoção, é Jason, né?” “Dieison, com “D”, tá ligado?” Malllvada riu alto na minha cara.

Pessoalmente, era melhor ainda de locução, mas não parecia tão Malllvada assim. Tinha um olhar amistoso por baixo da máscara da mulher morcega, gestos pensados, fala mansa e arrastada. Convidou para nos sentarmos, “uma por minha conta, por favor!”, fazendo gesto para o garçom. “Na na não, aqui é tudo comigo”, interrompeu o Padre Roque, “esse aqui podia ser meu filho, tu sabias?”, disse pousando a mão no ombro do Tropeço, que revirou os olhos. Malllvada soltou uma looonga e sonora gargalhada. Em seguida, de imediato, fechou o semblante. Bateu o tridente firme no chão, impostou a voz no grave profundo, numa mistura de Ana Carolina e Alcione: “Vocês sabem por que estão aqui?” Nos entreolhamos, Tropeço e eu. Negamos com movimentos de cabeça em sincronia. O garçom se aproximou com a bebida. Silêncio. Serviu os copos e se retirou. Malllvada prosseguiu: “Vocês têm uma missão a cumprir, diabouvintes, a Diabas precisa de vocês”. Ergueu o copo pedindo um brinde. Eu, “A Diabas!” Tropeço, “À Malllvada Loooucutora!” Malllvada, “A todos os inferninhos!” Padre Roque, “À dona Celeste”. Nós três, “Saúde!” Tropeço baixinho, “vai pa puta que ti pariu, véio!”. 

[Continua...]

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