Folhetim

Inferninho – Capítulo 8: Dominó

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Inferninho – Capítulo 8: Dominó
Jamais tinha recebido um espírito. Falando sério, eu nem acreditava muito nisso de baixar o santo numa pessoa, pra mim era tudo fingimento, tá ligado?, a Maitê garantia enquanto fumava um cigarro com uma piteira enorme de frente para o imenso espelho que cobre toda a parede lateral no Dominó, “sei muito bem quando a coisa é espiritual, sou sensitiva desde pequena”. Estava cansadíssimo, os músculos todos doloridos, pedi uma água com gás e limão, queria saber tudo exatamente como tinha acontecido. Maitê se aproximou e passando a mão nos meus cabelos disse “calma, Di, vou te contar tudinho, confia em mim, foi lindo”, o Tropeço segurava um saco de gelo sobre o olho do Negão Auri que parecia dormir esticado no sofá grande. A casa ainda não estava aberta, mas Chrystian & Ralf já reverberavam nos auto-falantes em volume moderado, pra entrar no clima “Essa é a história de um novo herói / Cabelos compridos a rolar no vento / Pela estrada no seu caminhão / Gravado no peito a sombra de um dragão /Tinha um sonho, ir pra Nova York / Levar a namorada / Fazer seu caminhão voar nas nuvens”.  O Dominó era uma casa pequena, muito aconchegante, tinha clientela cativa e a fama de só contratar belas mulheres, de fato, fazendo agora uma reflexão, não me recordo de encontrar ali uma feia, ou, mal-ajeitada, não, todas trabalhavam sempre muito bem-produzidas, tinham camarim, figurino, perfumes e uma cabeleireira disponível. Depois de uma crise de tosse, Maitê pigarreou e veio se sentar ao meu lado. “Olha, Di, eu não quero que tu fique com medo, isso só acontece com pessoas de alma pura”, tirou de dentro da pochete tigresa um terço e colocou nas minhas mãos, “Toma, é pra te proteger”, recusei, “não acredito nessas coisas, madrinha, pra mim é tudo falcatrua, tá ligada?”. Com as mãos pousadas nos meus ombros, os olhos rasos, disse “eu também não acreditava no sobrenatural, até que aconteceu aquela revoada na horta da dona Eva Dias, lembra?, nunca mais duvidei de nada nessa vida, aquilo me marcou para sempre”. Recordava  por cima dessa história de revoada, de uma horta pornográfica e dessa Eva Dias que era até meio bruxa, contavam diversas histórias sobre essa senhora, diziam por muito tempo ter sido namorada da Maitê, que não confirma a versão, mas repete o causo do tal pezinho de caralho sempre que tem a oportunidade. “Essa eu não conheço”, se achega o Negão Auri com o olho virado num tomate. “Tenho certeza de que a madrinha vai ficar feliz em te contar, mas agora eu preciso saber o que aconteceu depois que eu perdi o sentidos lá no Wandda, alguém pode me falar, se não for pedir muito?”. “Aconteceu que a mãe do Tropeço resolveu intervir por nós, fez contato lá do além pra tentar nos avisar alguma coisa”, a madrinha estava nervosa, nunca a vi assim, acendeu outro cigarro com uma piteira interminável e continuou, “conheço a Celeste, sei que se ela fez […]

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