Folhetim

Inferninho – Último capítulo: Gruta Azul

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Inferninho – Último capítulo: Gruta Azul

O Gruta, como chamam os íntimos, é tipo a xana das galáxias dos cabarés por aqui, tá ligado? A primeira divisão dos inferninhos. Uma adega com os melhores vinhos e um restaurante sofisticado, melhor que muito estabelecimento especializado no ramo. A Tia Carm…, digo, Luz Negra sabia exatamente onde estava, conhecia o lugar com exatidão, afinal foi ali, muitos anos antes, que iniciou sua carreira. A casa estava toda iluminada. Nunca tinha entrado no Gruta pelo gargalo de uma garrafa de licor e não me recordo de ter visto a casa assim, com as luzes todas acesas. Pareceu, no primeiro momento, bem maior. O pessoal da organização cuidava dos detalhes antes de abrir, tudo com muito requinte. No Gruta Azul Club quase sempre se imiscuíam personalidades conhecidas, empresários boêmios, pseudocelebridades momentâneas, famosos de passagem pela capital, e tanto agroboys herdeiros gastadores com dinheiro no bolso e vindos do interior quanto jovens trabalhadores aflitos, com suas rescisões inteirinhas para entregar aos prazeres da vida, tá ligado? Além, é claro, das benditas e lindíssimas moças que trabalhavam ali, assinatura da casa. Garçons alinhavam as garrafas e poliam copos. “E o Tropeço, Negão Auri, o Padre Roque, onde tá essa gente, vão me deixar sozinho nessa?”, perguntei a Luz Negra, que ainda descolava sobras de pele falsa do pescoço. “Vão chegar no momento certo, fica tranquilo”. Disse isso, conferiu o rótulo, abriu uma garrafa de vinho importado e entornou no bico. 

A Malllvada Loooucutora passava o som, acenou com a cabeça. Sem o menor constrangimento, vestia seu traje de Batgirl e carregava o tridente luminoso de plástico ligado na tomada com o cabo usb. Apontou pra mim e subiu o volume na potência máxima: “I’ve never seen you looking so lovely as you did tonight / I’ve never seen you shine so bright”. Baixou o som novamente e colocou os fones de ouvido. A melodia eu identifiquei, era uma música bem conhecida, mas não consegui lembrar qual. Malllvada dançava de rosto colado com o tridente, os olhos fechados por trás da máscara; aumentou novamente o volume: “The lady in red / is dancing with me / Cheek to cheek”. Lady In Red! É isso. Mas vai saber quem canta essa versão aí, tá ligado? “É do Chris de Burgh, original e das antiga”, levei um susto, era o Padre Roque que chegava pelas minhas costas. “A minha Celeste adorava essa. Fico feliz em te ver, Dieison, mas onde tá o meu guri?” Se o Tropeço descobre que o Padre Roque se refere a ele como meu guri vai dá treta certo, tá ligado? “Olha, Padre, a última vez que eu vi ele tava atrás do Negão Auri, lá no Dominó”. “A coisa tá fugindo do controle, Dieison, de hoje 

[Continua...]

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