Folhetim

Portas Porto Alegre 7: Portas sempre abrem pra dentro

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Portas Porto Alegre 7: Portas sempre abrem pra dentro

A Borges foi a primeira rua da capital à qual se referiu como faziam porto-alegrenses. Úrsula se autorizou essa espécie de intimidade já no segundo dia, antes mesmo de desfazer as quatro caixas com roupas, alguns livros e coisas básicas de cozinha. Mas ao contrário da rua da casa dos pais, teve a Borges como um ponto de fuga pro qual convergia sua vida desde que se mudara do interior pra estudar na UFRGS.

Borges de Medeiros nomeava a rua da casa da família, e outros da estirpe positivista mapeavam a cidade de Flores da Cunha onde se devia entrar muito lentamente – recomendava rindo – sob o risco de em poucas quadras já se estar a caminho de Antônio Prado. “Aquela verde comprida, na esquina antes do barro”, seria uma informação suficiente para encontrar a casa dos pais, pois a cidade terminava entre os últimos paralelepípedos do calçamento e o barro, limite físico que interditava a ambiguidade da indicação e dispensava orientações complementares pelo risco zero de se perder.

No Achei!, ao contrário, procurava a avenida como marco zero pra quaisquer destinos, cada vez mais diversos conforme traçava seu mapa na cidade. E bastava perguntar “esse ônibus passa pela Borges?” e já se sentia em casa. Dizia sobre a Demétrio Ribeiro: “começa na Washington Luiz e termina na Borges, esquina do Capitólio”, acrescentando ou dispensando camadas de informações dependendo de quem fosse o interlocutor. 

Nas cada vez mais esparsas e curtas visitas, com hora certa pra voltar a Porto Alegre, parentes e conhecidos especulavam as referências do lugar onde ela morava, e Úrsula selecionava as que poderiam fazer algum sentido pra quem mora no interior: assim, dava saliência a quão perto ela morava da Catedral, cujos sinos domingueiros reverberavam ladeira abaixo dos altos da Duque de Caxias – e do Theatro São Pedro, lomba acima; do cinema Capitólio, a duas quadras de casa; do campus centro, a uma pernada, pertinho da Santa Casa. “É um pouco mais longe, mas também dá pra ir a pé”, complementava ela ao mais fanático torcedor colorado da cidade, como se isso lhe angariasse alguma espécie de importância. A caminho do estádio, passava-se pelo parque Marinha até o estádio do Internacional de onde voltava pra casa pela beira do Guaíba – paralela à sua Borges: aquele espetáculo ao alcance dos pés, das mãos e da vista do 704. 

[Continua...]

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