Folhetim

Quem quer ser a mãe do João? Cap. 8

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Quem quer ser a mãe do João? Cap. 8

A Mãe resolveu faxinar a casa, pois nunca havia passado um mês inteiro sem faxina na vida. Lavou roupa, arrumou a cozinha, limpou o chão, varreu quintal. Não conseguiu limpar o quarto do João, no entanto; até desejava que a cortina de contas na porta fosse mais sólida, que escondesse melhor o cômodo que abrigava o filho, pra não ter que olhar e ver o quarto vazio. Se sentiu muito melhor depois de acabar a limpeza mesmo assim, acendeu um cigarro e sentou no sofá, a mente indo longe junto com a fumaça. 

Se sentiu cansada. Se repreendeu por estar cansada. Estar cansada foi o que causou aquilo tudo, pra começar. Mas como não ficar cansada? 44 anos, trabalhadora braçal, fazia faxina, escovava cabelo, vendia de um tudo. Estava cansada desde moça, trabalhava desde os onze. Pensou no João perdido sabe-se lá onde só pra se torturar e chorou. Aquilo era uma tortura, um processo de luto sem a certeza da morte. O menino a mais de mês sumido, tava comendo o quê? Tava dormindo onde? E se tivesse mesmo morto, como Léo dizia às vezes, que era pra ela se preparar pro luto? E aquilo já não era luto? Velava o João aos pés da santa diariamente, cada dia um velório diferente. Morto? João? Que mãe consegue se preparar pra esse absurdo antinatural de ver um filho morrer? Conversou um pouco com a santa na parede, chorou, desabafou. Depois levantou e foi pra cozinha beber uma água, achou o velho caderninho do psiquiatra jogado em cima da mesa, mais esquecido que tudo.

[Continua...]

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Se sentiu cansada. Se repreendeu por estar cansada. Estar cansada foi o que causou aquilo tudo, pra começar. Mas como não ficar cansada? 44 anos, trabalhadora braçal, fazia faxina, escovava cabelo, vendia de um tudo. Estava cansada desde moça, trabalhava desde os onze. Pensou no João perdido sabe-se lá onde só pra se torturar e chorou. Aquilo era uma tortura, um processo de luto sem a certeza da morte. O menino a mais de mês sumido, tava comendo o quê? Tava dormindo onde? E se tivesse mesmo morto, como Léo dizia às vezes, que era pra ela se preparar pro luto? E aquilo já não era luto? Velava o João aos pés da santa diariamente, cada dia um velório diferente. Morto? João? Que mãe consegue se preparar pra esse absurdo antinatural de ver um filho morrer? Conversou um pouco com a santa na parede, chorou, desabafou. Depois levantou e foi pra cozinha beber uma água, achou o velho caderninho do psiquiatra jogado em cima da mesa, mais esquecido que tudo.

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