Folhetim

Quem quer ser a mãe do João? Cap. Final

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Quem quer ser a mãe do João? Cap. Final

A Mãe subiu no ônibus e passou a roleta. Se sentou bem atrás do banco do trocador, perto da janela, e foi em silêncio no ônibus vazio, só ela e o motorista. Já era quase meia-noite e ela não se lembrava da última vez que havia pegado ônibus tão tarde. Nada na rua estava aberto além da mercearia do postinho, onde tinha comprado o cigarro. Se sentiu meio mal, com um medinho frágil, como quem tem medo do escuro, ao ver a noite passando na janela. Se sentiu aventureira demais pro próprio gosto, mas estava firme.

Sentiu muito sono com o balanço do ônibus de luzes apagadas, quase adormeceu, mas despertou com o coração na boca. Não ia dormir naquele ônibus nunca mais. Passando pelo maldito lugar onde João foi visto pela última vez, ela deu sinal e desceu. Era uma beira-linha deserta, fazendo uns 17 graus, sua respiração criava vapor no ar. Desceu do ônibus e marchou valente embaixo da garoa finíssima. Não sabia pra onde ia, seus pés andavam no automático. 

Vagou pela BR, vagou pelas malocas em volta, perguntando do menino a quem tivesse na frente, entrou ruas, subiu becos, se perdeu. Deu uma da manhã, duas, três, ela perdeu a conta. Entrou numa lanchonete cheia de taxistas pra se esconder da chuva que engrossou e ficou desconfortável em pé num canto perto da porta. Tinha mais medo de um lugar cheio de homem do que de uma rua deserta. Abriu o biscoito de polvilho e comeu quatro. Fumou um cigarro. Quando a chuva parou de vez, já eram três e pouca da manhã. Um taxista, intrigado ao ver que ela se preparava pra sair andando sozinha àquela hora, puxou assunto.

— A senhora, mal lhe pergunte, tá sozinha essa hora?  Dona, essa quebrada é perigosa, a senhora vai ser assaltada aí, viu? Cuidado. Cê mora por aqui? 

— Moro não. Tô caçando meu filho — respondeu ela, seca, mostrando a foto amassada de João. 

— Você viu esse menino? 

[Continua...]

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A Mãe subiu no ônibus e passou a roleta. Se sentou bem atrás do banco do trocador, perto da janela, e foi em silêncio no ônibus vazio, só ela e o motorista. Já era quase meia-noite e ela não se lembrava da última vez que havia pegado ônibus tão tarde. Nada na rua estava aberto além da mercearia do postinho, onde tinha comprado o cigarro. Se sentiu meio mal, com um medinho frágil, como quem tem medo do escuro, ao ver a noite passando na janela. Se sentiu aventureira demais pro próprio gosto, mas estava firme.

Sentiu muito sono com o balanço do ônibus de luzes apagadas, quase adormeceu, mas despertou com o coração na boca. Não ia dormir naquele ônibus nunca mais. Passando pelo maldito lugar onde João foi visto pela última vez, ela deu sinal e desceu. Era uma beira-linha deserta, fazendo uns 17 graus, sua respiração criava vapor no ar. Desceu do ônibus e marchou valente embaixo da garoa finíssima. Não sabia pra onde ia, seus pés andavam no automático. 

Vagou pela BR, vagou pelas malocas em volta, perguntando do menino a quem tivesse na frente, entrou ruas, subiu becos, se perdeu. Deu uma da manhã, duas, três, ela perdeu a conta. Entrou numa lanchonete cheia de taxistas pra se esconder da chuva que engrossou e ficou desconfortável em pé num canto perto da porta. Tinha mais medo de um lugar cheio de homem do que de uma rua deserta. Abriu o biscoito de polvilho e comeu quatro. Fumou um cigarro. Quando a chuva parou de vez, já eram três e pouca da manhã. Um taxista, intrigado ao ver que ela se preparava pra sair andando sozinha àquela hora, puxou assunto.

— A senhora, mal lhe pergunte, tá sozinha essa hora?  Dona, essa quebrada é perigosa, a senhora vai ser assaltada aí, viu? Cuidado. Cê mora por aqui? 

— Moro não. Tô caçando meu filho — respondeu ela, seca, mostrando a foto amassada de João. 

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