Mistérios parciais de Porto Alegre | Parêntese

Gunter Axt: Cafés, combates e um saboroso bife com ovo

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Gunter Axt: Cafés, combates e um saboroso bife com ovo Um passeio pela agitada vida do centro de Porto Alegre entre fins do século XIX e as primeiras décadas do século XX Pesquisa iconográfica e tratamento digital das imagens por Flávio Wild Café Guarany, no Largo dos Medeiros. Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. Entre fins do século XIX e meados do século XX, Porto Alegre viveu a idade de ouro dos cafés. Na França, já faziam sucesso em fins do século XVIII, e no Rio de Janeiro os primeiros estabelecimentos do gênero surgiram no início do século XIX. Em São Paulo e em Porto Alegre, seu desenvolvimento foi mais tardio, atraindo no início frequentadores mais turbulentos e, aos poucos, gente interessada nos assuntos do momento. Na mesma época, surgiram as confeitarias, espaços mais elegantes e frequentados por famílias. Os estabelecimentos de Porto Alegre combinavam uma mistura de influência portenha, portuguesa e germânica.  Em 1870, localizado na Rua da Praia, coração da cidade, no Café da Fama, segundo o cronista Achylles Porto Alegre, aparecia quem não prezasse a própria fama. No final do século, Java, Roma, América e Guarani, arranjados no largo dos Medeiros, converteram-se em pontos de encontro, já por quem queria ver e ser visto, ou se inteirar das novidades. A clientela, predominantemente masculina, era mais refinada do que a das antigas tabernas. Gente atenta às fumaças intelectuais de Paris e, sobretudo, à política. Ali, jogava-se dominó, liam-se jornais, debatiam-se os acontecimentos recentes. Havia música ao vivo. Os harpistas eram incensados.  O Café Pátria, em 1895, exibira com êxito o grupo de Eduardo Moccia, apresentando zarzuelas, um gênero lírico-dramático espanhol que alternava cenas cantadas e faladas, então muito popular. Durante o dia, não era raro ver alguém lendo em voz alta artigos publicados nos jornais. Muitos, afinal, não eram alfabetizados e dependiam dos leitores para se atualizar.  Nos tempos bicudos que decorreram do golpe de Estado que implantou a República, em 15 de novembro de 1889, Porto Alegre foi palco de tropelias, correrias e atentados. O Café Java era requisitado pela turma identificada com o dinâmico e persecutório Julio de Castilhos, ao passo que o Café América, na face oposta, era preferido pelos eleitores fiéis ao antigo Partido Liberal, ao conselheiro Gaspar Silveira Martins e à dissidência republicana. Por volta das 19h da noite de 31 de maio de 1893, quando já se incendiava no interior a sangrenta Revolução Federalista, um grupo invadiu o Café América distribuindo cacetadas a torto e a direito e disparando tiros de revólver. O saldo contabilizou nove feridos a bala (dois em estado gravíssimo) e quatro com escoriações. O episódio, relatado por Sérgio da Costa Franco, ficou conhecido como o combate dos cafés. Hotel e Restaurante Viena, na Rua dos Andradas esquina com a General Câmara, 1920-1929. Fotógrafo Studio OS 2. Museu Joaquim José Felizardo- Fototeca Sioma Breitman. Nas primeiras décadas do século XX, a rua da Praia consolidou-se como o coração da gastronomia e da vida boêmia da Capital. Na esquina com a rua da Ladeira (General Câmara), erguia-se o Hotel […]

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Um passeio pela agitada vida do centro de Porto Alegre entre fins do século XIX e as primeiras décadas do século XX Pesquisa iconográfica e tratamento digital das imagens por Flávio Wild Café Guarany, no Largo dos Medeiros. Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. Entre fins do século XIX e meados do século XX, Porto Alegre viveu a idade de ouro dos cafés. Na França, já faziam sucesso em fins do século XVIII, e no Rio de Janeiro os primeiros estabelecimentos do gênero surgiram no início do século XIX. Em São Paulo e em Porto Alegre, seu desenvolvimento foi mais tardio, atraindo no início frequentadores mais turbulentos e, aos poucos, gente interessada nos assuntos do momento. Na mesma época, surgiram as confeitarias, espaços mais elegantes e frequentados por famílias. Os estabelecimentos de Porto Alegre combinavam uma mistura de influência portenha, portuguesa e germânica.  Em 1870, localizado na Rua da Praia, coração da cidade, no Café da Fama, segundo o cronista Achylles Porto Alegre, aparecia quem não prezasse a própria fama. No final do século, Java, Roma, América e Guarani, arranjados no largo dos Medeiros, converteram-se em pontos de encontro, já por quem queria ver e ser visto, ou se inteirar das novidades. A clientela, predominantemente masculina, era mais refinada do que a das antigas tabernas. Gente atenta às fumaças intelectuais de Paris e, sobretudo, à política. Ali, jogava-se dominó, liam-se jornais, debatiam-se os acontecimentos recentes. Havia música ao vivo. Os harpistas eram incensados.  O Café Pátria, em 1895, exibira com êxito o grupo de Eduardo Moccia, apresentando zarzuelas, um gênero lírico-dramático espanhol que alternava cenas cantadas e faladas, então muito popular. Durante o dia, não era raro ver alguém lendo em voz alta artigos publicados nos jornais. Muitos, afinal, não eram alfabetizados e dependiam dos leitores para se atualizar.  Nos tempos bicudos que decorreram do golpe de Estado que implantou a República, em 15 de novembro de 1889, Porto Alegre foi palco de tropelias, correrias e atentados. O Café Java era requisitado pela turma identificada com o dinâmico e persecutório Julio de Castilhos, ao passo que o Café América, na face oposta, era preferido pelos eleitores fiéis ao antigo Partido Liberal, ao conselheiro Gaspar Silveira Martins e à dissidência republicana. Por volta das 19h da noite de 31 de maio de 1893, quando já se incendiava no interior a sangrenta Revolução Federalista, um grupo invadiu o Café América distribuindo cacetadas a torto e a direito e disparando tiros de revólver. O saldo contabilizou nove feridos a bala (dois em estado gravíssimo) e quatro com escoriações. O episódio, relatado por Sérgio da Costa Franco, ficou conhecido como o combate dos cafés. Hotel e Restaurante Viena, na Rua dos Andradas esquina com a General Câmara, 1920-1929. Fotógrafo Studio OS 2. Museu Joaquim José Felizardo- Fototeca Sioma Breitman. Nas primeiras décadas do século XX, a rua da Praia consolidou-se como o coração da gastronomia e da vida boêmia da Capital. Na esquina com a rua da Ladeira (General Câmara), erguia-se o Hotel […]

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