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A Retomada Konhun Mág

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A Retomada Konhun Mág Foto: Rossanna Prado

A região da Serra Gaúcha é conhecida pela imigração de italianos e alemães. De fato, o fluxo humano vindo de regiões da Europa para o sul do Brasil entre os séculos XIX e XX foi intenso. Na época, as elites disputavam projetos políticos, sociais, demográficos e econômicos para uma nova nação que se vislumbrava. Um ponto importante dos debates foi o que fazer com os sertões considerados “vazios”, na verdade habitados pelos povos originários. Entre esses territórios ainda não invadidos, estava a metade norte da Província do Rio Grande do Sul, onde viviam os Kaingang, na época chamado de ‘Coroados’ pelo corte de cabelo característico.

A partir de 1846, o governo da província implementou o projeto de aldeamentos, expulsando os indígenas de seus territórios e forçando o seu estabelecimento em terras demarcadas controladas por agentes estatais, religiosos e militares, na região do Alto Uruguai.

Na região da Serra Gaúcha, uma liderança Kaingang foi célebre pela resistência. O cacique João Grande, ou Nicué, Nivö, entre outros nomes, liderou a luta nos vales e morros onde hoje estão cidades como Canela, Gramado, Nova Petrópolis, Três Coroas, Caxias do Sul, entre outras. Suas ações ficaram célebres entre as autoridades, sendo mencionadas algumas vezes em discursos de presidentes da província, cargo equivalente a governador. Seu grupo foi fortemente perseguido, com o objetivo de limpar o território para os colonizadores europeus.

Os descendentes desse grupo de guerreiros Kaingang nunca esqueceram o passado de violência e perseguição. Em 2005, começa um movimento de retomada na região em que viveu e lutou João Grande. Encabeçado pela família de Zílio Jagtyg e Nilda Kengrimu, a reivindicação em Canela teve, como base, relatos da memória, contatos dos Kujà com os espíritos dos ancestrais, presença da floresta de araucária, os diversos sítios arqueológicos existentes, as histórias de descendentes de indígenas “caçados no mato”, de tropeiros e “bugreiros”.

Em janeiro de 2020, o grupo entrou na Floresta Nacional de Canela, continuando o projeto de Zílio e Nilda e dando início à Retomada Konhun Mág. Apesar das ameaças de reintegração de posse pelo governo federal e direção da área, os Kaingang resistem nesse território, aguardando um estudo de demarcação que ocorre lentamente através da Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

O povo Kaingang da retomada Konhun Mág, guiado pelos kujá, faz a luta com as próprias mãos e demonstram a força de sua determinação, sua memória e ancestralidade.

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