Fág – Araucária
Cada vez mais cientistas percebem que as florestas que se achava serem virgens não são tão intocadas assim e que as matas nativas são matas indígenas. Isto ocorre na Amazônia, onde se encontram cada vez mais resquícios de sociedades de antes da chegada dos europeus e que plantaram, com sua vida social, as florestas com a riqueza que elas têm hoje.
Uma pesquisa divulgada pelo portal científico Phys.org afirma que a expansão da mata de Araucárias, característica da paisagem do Planalto Sul-Brasileiro, também tem grupos humanos como um fator decisivo: os ancestrais dos povos Jê do Sul, os atuais Kaingang e Xokleng. Não por acaso, o território de ocupação tradicional de tais povos coincide com a extensão das matas de Araucária, do Sul de São Paulo até as bordas do Planalto no Rio Grande do Sul, passando por Paraná, Santa Catarina e parte da Argentina.
Na pesquisa, divulgada pela revista Piauí no ótimo artigo intitulado “O povo que fez do pinhão uma floresta” (2018), cientistas brasileiros e estrangeiros identificaram a expansão da Araucária em um momento em que o clima e o ambiente eram desfavoráveis. Dessa forma, a explicação é que o fator humano favoreceu a expansão, em um período que coincide com a migração dos povos Jê, há mais de mil anos.
Todavia, não são necessários dados complexos e análises de carbono para perceber a conexão umbilical dos povos Jê com a Araucária, Fág em língua Kaingang. Além de fornecer o pinhão, um alimento muito apreciado e importante – tanto no tempo dos antigos (vãsy) quanto nos tempos atuais (uri) –, essa árvore faz parte da mitologia e contém a visão de mundo do povo Kaingang: na Araucária Fág, estão presentes as duas metades, Kamé e Kainru-Kré, representando o equilíbrio das forças vitais presentes em todas as coisas vivas.
Dentro do projeto Resistência Kaingang, a equipe visitou uma Araucária ancestral, localizada no Paraná. Na gravação de um documentário com a Retomada Konhun Mág em Canela, a comunidade da aldeia conheceu o local do primeiro acampamento em que começou a retomada em 2008, o parque do Pinheiro Grosso em Canela, onde também há uma Araucária ancestral. Essas árvores centenárias são como ancestrais dos Kaingang, os Kofá Fág.