Parêntese | Resenha

Jandiro Adriano Koch: Naná: um clássico de Zola

Change Size Text
Jandiro Adriano Koch: Naná: um clássico de Zola
De pele alabastrina (encantado por essa palavra, porque encontrei algo para descansar o “branquela” que me atribuo.), Naná é a personagem-eixo e título de um dos tantos livros de Émile Zola (1840-1902), autor de quem eu tenho alguns volumes, que integraram aquelas coleções lançadas junto com jornais, que eu comprava avidamente. Outra coleção minha, já perdida, era a de figurinhas de animais do chocolate Surpresa. Boas opções. Estou pegando os tomos que estava deixando na prateleira para depois da aposentadoria – que já via como longíssima com a Reforma da Previdência. De momento, a pandemia não me deu mais tempo, embora os coaches insistam nisso, nem reorganizou minhas prioridades. Continuo laborando por necessidade. Prossegue a rotina de ocupar o tempo vago com literatura. O que mudou é que passei a sacar os clássicos movido por uma duvidazinha de que, talvez, seja agora ou nunca.  Também porque encrenquei com algo que li nas redes sociais, talvez a dita gota d’água. Li um comentário em que criticavam os grandes, porque era tempo de ler os novos. Como se não houvessem grandes entre os contemporâneos ou pequenos entre os antigos. Aliás, leitor contumaz, não alcanço quando adjetivam algum texto de velho – velhaco, dependendo qual, até vai. Tudo o que não li me parece absolutamente fresco, mesmo proveniente dos sebos. Foi assim com A besta humana (1890), que me levou a insistir em Zola, de quem, até abril de 2020, só sabia por uma transposição para o cinema: Germinal (1993), direção de Claude Berri (1934-2009). E por ler, en passant, sobre o caso do capitão Alfred Dreyfus (1859-1935), que foi condenado ao exílio perpétuo na ilha do Diabo, na costa da Guiana Francesa, acusado de repassar informações secretas aos alemães. Com a famosa sentença-título Eu acuso (1898), Zola publicou em defesa do condenado, que acabou absolvido após dois novos julgamentos. Intervenção que rendeu ordem de prisão e multa para o escritor, que, afinal, se insurgia contra a ordem máxima da França. Adianto que vou mitigar um tanto as já tradicionais críticas a como os escritores naturalistas, muitas vezes, percebiam a mulher. Há diversos textos interessantes nesse sentido, dos quais as pessoas podem se servir direto da internet. Minhas observações seguem num outro viés. Em suma, são meus post-its na primeira leitura de Naná (1880).  Antes de ser uma cocote, de ser a representação da genuína demi-mondaine, Naná me pareceu o espelho da sociedade aristocrática e da burguesia francesa do final do século XIX.  Não como a incorporação, mas como o objeto que reflete. Ela é a rachadura no verniz. A que desvela a dissimulação. A que expõe os carolas e a elite. A que age para “vingar […] o seu mundo, os vadios e os abandonados”. Ao contrário do que muitos escreveram, não a vi como um arquétipo feminino de dissolução de costumes, megera-mulher reiterada, mas como uma anti-heroína. Os comportamentos vis são estratagema para revelar iguais ou piores na high society, nos homens, aqui gênero, principalmente.  Naná. Quadro de Édouard Manet (1832-1883) […]

Quer ter acesso ao conteúdo exclusivo?

Assine o Premium

Você também pode experimentar nossas newsletters por 15 dias!

Experimente grátis as newsletters do Grupo Matinal!

RELACIONADAS
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHEUM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHEUM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.