Mistérios parciais de Porto Alegre | Parêntese

Julia da Rosa Simões: O Petit Casino – Parte I

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Julia da Rosa Simões: O Petit Casino – Parte I Beto, Chaminé: bestiais
No fim da década de 1960, alguns imóveis da rua da Praia, entre a rua da Ladeira e o Clube do Comércio, em frente à Praça da Alfândega, foram destruídos para dar lugar à Galeria Di Primio Beck. A demolição atingiu o antigo prédio do jornal Diário de Notícias (incendiado em 1954, nos protestos pelo suicídio de Getúlio Vargas) e, ao lado deste, também um pequeno teatro esquecido.  Anterior ao prédio do Imperial (que data de 1931) e contemporâneo ao do Guarany (de 1913), ambos antigos cinemas cujas carcaças sobrevivem bravamente ao lado da finada Farmácia Carvalho, este pequeno teatro, originalmente chamado Petit Casino, despertou a atenção da sociedade porto-alegrense à época, e guarda, em sua história, um precioso registro da cidade. É à sua curiosa trajetória e existência que as linhas deste texto se dedicam. As origens do “elegante teatrinho” Uma curiosidade meio apressada fazia-me reparar, às vezes, para um letreiro de frontispício que havia no Largo dos Medeiros: “Petit-Casino”. Nunca cheguei a entender bem aquela complicada arquitetura, extravagância de um capitalista desta praça, o Antônio Tavares, lá pelos idos de 1912.  Como vemos neste relato de Nilo Ruschel em seu livro de crônicas Rua da Praia, as origens do Petit Casino remontam a 1912. A memória do cronista parece ter sido requisitada de maneira não muito apurada, mas se revela exata: nos registros do Arquivo Municipal para o ano de 1912, de fato encontramos um requerimento, assinado por Antônio Ferreira Tavares. No processo, de número 001.000244.12, o proprietário de um terreno à rua dos Andradas solicita licença para construir ali um espaço para o funcionamento de um cinematógrafo.  O desenho da fachada e a planta do prédio, anexos ao processo, permitem a identificação do prédio em questão em uma fotografia dos anos 1930. Desenho da fachada do Petit Casino, de 1912. (Arquivo Municipal) Detalhe de foto da Praça da Alfândega. (Correio do Povo, 23/08/31) O Petit Casino é inaugurado quatro anos depois, em 1916, alguns dias após a reprodução no Correio do Povo de um comunicado solicitando à Intendência a vistoria do espaço, “a exemplo do que se faz em outros países e em grandes centros europeus”. A Europa, invocada como parâmetro a que talvez o proprietário quisesse equiparar seu teatro, está presente também no nome − a palavra Casino aparece em vários estabelecimentos de revistas de music-hall no fim do século XIX e início do século XX, na França e especialmente em Paris, onde se destacam o “Le Casino de Paris” e o “Petit Casino”, também estes salas de cinema e teatro. A semelhança no nome não é mera coincidência: evoca a belle époque francesa e sua efervescência cultural. Antônio Tavares obtém a liberação do espaço, e, graças a seu pedido, a indicação antes genérica da localização do Petit Casino na rua dos Andradas pode ser especificada: no 343, com uma saída pela General Câmara nos nos 29 e 31.  A saída também é mencionada por Ruschel: “A edificação foi acrescida de mais um andar, recuado, e dava saída, […]

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