Parêntese | Tradução

Lígia Petrucci: Uma estrela no olho

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Lígia Petrucci: Uma estrela no olho exercícios de tradução de haikais Nunca exerci o ofício de tradutora e, a bem da verdade, meus conhecimentos da língua inglesa têm sérias limitações. Mas adoro haikais. E, embora não seja uma leitora contumaz, sou constante. Meus primeiros contatos com essa forma poética milenar aconteceram no início da década de 1980, através de Paulo Leminski: foi sobretudo a pequena biografia de Matsuó Bashô, escrita por ele para a coleção Encanto Radical, da Editora Brasiliense, que acendeu em mim essa faísca, essa chama. A conexão foi tanta que compartilhei o entusiasmo com minhas parceiras de dança da época e, um tempo depois, o grupo que formamos recebeu o nome de Haikai Dança e Performance – nossa divisa, aliás, era um haikai do próprio Leminski: a noite me pinga uma estrela no olhoe passa Nos identificávamos com a concisão, a brevidade, a economia de meios. Também com a ideia de fugacidade, de instantaneidade, do aqui e agora – tudo isso de que é feita a dança, e de que são feitos os haikais. No início deste ano, recebi de minha amiga Mônica Dantas, professora, bailarina, pesquisadora e ex-integrante do Haikai, uma belíssima publicação bilíngue organizada por David Cobb para The British Museum Press. Um presente dos sonhos: além do conjunto de mestres ali reunido – Bashô, Issa, Chiyo-ni (uma poeta, convém lembrar) –, as páginas vêm ilustradas com gravuras tradicionais da coleção de arte japonesa do museu. Essa paixão de anos, somada ao insólito cotidiano da quarentena, me levou a entrar no jogo de transpor sentidos só pelo prazer de jogar. Parti sempre das traduções do inglês, porque estudar japonês ainda é um desses sonhos distantes. Foi de fato muito prazeroso buscar, sem pressa, as imagens, as palavras. Foi prazeroso também receber os comentários dos amigos Lolita Beretta e Paulo Neves e de minha filha Maria. Na condição de amadora, me permiti deixar de lado o compromisso com a estrutura de 17 sílabas, formato usual do haikai.  Os sete poemas selecionados fazem parte da seção ‘Primavera’ na publicação. Acho que comecei por ela desejando que fosse o prenúncio de uma primavera que deverá chegar, um dia.  I. snow meltsand the village floodswith children Issa a neve derrete e o vilarejo se inundade crianças Tradução para o inglês de David Cobb II. in the shadow of the cherry blossomcomplete strangersthere are none… Issa na sombra das cerejeiras em flordesconhecidosnão há… Tradução para o inglês de Kaj Falkman III. hot bath watercold on the breastless sidespring thunderOgino Yóko água quente na banheirafria onde não me apoiotrovão de primavera [o texto em japonês não é um haikai, mas uma tradução literal de um original em inglês] IV. On the ebb tide beachEvery thing we pick upIs alive Chiyo-ni na praia à maré baixatudo que se apanhaestá vivo Tradução para o inglês de David Cobb V. rain clouds —the frogpuffs his belly out Chiyo-ni nuvens de chuva —o sapoestufa a barriga gorducha Tradução para o inglês de David Cobb VI. the paper-weightson the picture books on the shop […]

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exercícios de tradução de haikais Nunca exerci o ofício de tradutora e, a bem da verdade, meus conhecimentos da língua inglesa têm sérias limitações. Mas adoro haikais. E, embora não seja uma leitora contumaz, sou constante. Meus primeiros contatos com essa forma poética milenar aconteceram no início da década de 1980, através de Paulo Leminski: foi sobretudo a pequena biografia de Matsuó Bashô, escrita por ele para a coleção Encanto Radical, da Editora Brasiliense, que acendeu em mim essa faísca, essa chama. A conexão foi tanta que compartilhei o entusiasmo com minhas parceiras de dança da época e, um tempo depois, o grupo que formamos recebeu o nome de Haikai Dança e Performance – nossa divisa, aliás, era um haikai do próprio Leminski: a noite me pinga uma estrela no olhoe passa Nos identificávamos com a concisão, a brevidade, a economia de meios. Também com a ideia de fugacidade, de instantaneidade, do aqui e agora – tudo isso de que é feita a dança, e de que são feitos os haikais. No início deste ano, recebi de minha amiga Mônica Dantas, professora, bailarina, pesquisadora e ex-integrante do Haikai, uma belíssima publicação bilíngue organizada por David Cobb para The British Museum Press. Um presente dos sonhos: além do conjunto de mestres ali reunido – Bashô, Issa, Chiyo-ni (uma poeta, convém lembrar) –, as páginas vêm ilustradas com gravuras tradicionais da coleção de arte japonesa do museu. Essa paixão de anos, somada ao insólito cotidiano da quarentena, me levou a entrar no jogo de transpor sentidos só pelo prazer de jogar. Parti sempre das traduções do inglês, porque estudar japonês ainda é um desses sonhos distantes. Foi de fato muito prazeroso buscar, sem pressa, as imagens, as palavras. Foi prazeroso também receber os comentários dos amigos Lolita Beretta e Paulo Neves e de minha filha Maria. Na condição de amadora, me permiti deixar de lado o compromisso com a estrutura de 17 sílabas, formato usual do haikai.  Os sete poemas selecionados fazem parte da seção ‘Primavera’ na publicação. Acho que comecei por ela desejando que fosse o prenúncio de uma primavera que deverá chegar, um dia.  I. snow meltsand the village floodswith children Issa a neve derrete e o vilarejo se inundade crianças Tradução para o inglês de David Cobb II. in the shadow of the cherry blossomcomplete strangersthere are none… Issa na sombra das cerejeiras em flordesconhecidosnão há… Tradução para o inglês de Kaj Falkman III. hot bath watercold on the breastless sidespring thunderOgino Yóko água quente na banheirafria onde não me apoiotrovão de primavera [o texto em japonês não é um haikai, mas uma tradução literal de um original em inglês] IV. On the ebb tide beachEvery thing we pick upIs alive Chiyo-ni na praia à maré baixatudo que se apanhaestá vivo Tradução para o inglês de David Cobb V. rain clouds —the frogpuffs his belly out Chiyo-ni nuvens de chuva —o sapoestufa a barriga gorducha Tradução para o inglês de David Cobb VI. the paper-weightson the picture books on the shop […]

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