Parêntese | Resenha

Luís Augusto Fischer: O cordel do Gonçalo

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Luís Augusto Fischer: O cordel do Gonçalo

O biólogo, pesquisador de populações animais, professor de UFRGS e poeta Gonçalo Ferraz entrou numa trip nova e muuuuuuito bacana: está publicando no sondcloud um cordel, o Cordel do Corte Raso, contando a vida e obra de Rodrigo Dias Villar, um personagem que sai de Lisboa e vem dar com os costados em Manaus. 

Cordel é cordel, nome dado àqueles folhetos impressos e pendurados em cordéis quanto à venda, e “corte raso” é como se denomina aquele ataque contra a floresta que destrói homogeneamente tudo que estava com raiz no chão. 

E é cordel mesmo, na lei, com redondilhas maiores, rima por tudo e, tão importante quanto, forte índole narrativa, peripécias, viagens, encontros, saídas, caçadas, tudo para contar a vida do Rodrigo, este por sua vez com nome remotamente lembrando outro Rodrigo, o Díaz de Vivar, o real e mitológico Cid Campeador. 

É o Gonçalo dizendo o poema, em voz meio encantatória e seu sotaque lisboeta atenuado mas presente, dando a conhecer a trajetória e os momentos da vida do personagem, crescendo em sua terra natal, viajando depois, chegando a Manaus, conhecendo a floresta, uma imensidão de fatos. A voz do poeta tem como parceiro, em discreto contraponto, um lindo e sentido cello — com seu timbre tão humano, tão aparentado dos lamentos humanos  — , com trilha composta e executada por Lucas Duarte. Já tem no ar o Preâmbulo e mais cinco capítulos, e vai longe. Cada parte tem entre 6 e 18 minutos.

Uma maravilha, um encantamento. O ouvinte sai de si e vai na vaza do mar até o rio Negro, lá em Manaus. 

Imperdível. Gaste uma hora de sua quarentena: a satisfação é garantida, os miolos ficam estimulados, a alma resulta voando. 


Créditos

Texto e voz: Gonçalo Ferraz
Violoncelo e composição: Lucas Duarte
Edição e mixagem: Humberto Mohr
Som ambiente: Ana Bacelar (sino em Lisboa), Ketlen Costa (sons de Manaus), Camila Wood (‘Fique em casa’ de Porto Alegre), Jansen Zuanon (aquário em Manaus), Thiago Couto (voadeira no rio Chapecó).
Produzido na quarentena em Porto Alegre, durante a pandemia de SARS-Cov-2.


Luís Augusto Fischer é professor de Literatura na UFRGS, autor de, entre outros, “Dicionário de porto-alegrês” e “Literatura brasileira: modos de usar”, ambos pela L&PM . É curador da revista Parêntese.

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