Parêntese | Retrato escrito

Luís Augusto Fischer: Viagem ao Rio Grande do Sul, de Auguste de Saint-Hilaire

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Luís Augusto Fischer: Viagem ao Rio Grande do Sul, de Auguste de Saint-Hilaire Durante vários dias o tempo se manteve muito frio; hoje (4 de julho) está sombrio, como na França, antes de nevar, tendo chovido uma boa parte do dia. Cai geada quase todas as noites.  Esse frio se repete anualmente; todos se queixam dele, o que é de admirar-se, pois ninguém toma providências para defender-se do inverno; só cuidam de agasalhar o corpo com roupas pesadas. Os porto-alegrenses vestem, no interior de suas casas, um espesso capote que lhes embaraça os movimentos e não os impede de tremer de frio; ninguém pensa em aquecer os aposentos, trazendo-os bem fechados e neles acendendo uma lareira. Há aqui um grande número de belas casas, bem construídas e bem mobiliadas, mas nenhuma delas possui lareira ou chaminé. Os aposentos são muito altos; as portas e as janelas fecham-se mal; estas, geralmente, têm vidros quebrados, que ninguém se importa de substituir, e há casas em que não se consegue procurar um objeto senão abrindo as venezianas e até mesmo as portas.  Este é Auguste de Saint-Hilaire, um naturalista francês que visitou nossa cidade nos dias 21 de junho a 21 de julho de 1820 – duzentos anos atrás. O trecho acima, bá, deu pra reconhecer? Apesar de estarmos agora num calorão… bem, num calorão porto-alegrense, essa observação de que as casas não são equipadas para o frio dá pra lembrar bem. Mas ele disse mais, muito mais. Repara nesta passagem, ele falando da região que hoje abriga o parque Marinha do Brasil: Desejando-se apreciar uma paisagem diferente, mas também cheia de belezas, basta, logo que se chega ao ponto mais alto da cidade, na rua da Igreja, voltar-se para o lado [sul] oposto àquele que acabo de descrever.  A parte da lagoa que banha a península do lado sudoeste forma uma grande enseada de forma semielíptica, de águas geralmente tranquilas. Um vale, largo e pouco profundo, limita a parte mais baixa da enseada; nas margens o conde Figueira mandou plantar, recentemente, uma aleia muito larga de figueiras selvagens que, futuramente, constituirá aprazível lugar para passeios.  Pra completar, que tal essa visão sobre a Santa Casa? Um grande hospital, construído fora da cidade!!! Fora da cidade, sobre um dos pontos mais elevados da colina onde ela se acha construída, iniciou-se a construção de um hospital, cujas proporções são tão grandes que provavelmente não seja terminado tão cedo; mas a sua posição foi escolhida com rara felicidade, porque é bem arejado, bastante afastado da cidade, para evitar contágios; ao mesmo tempo, muito próximo para que os doentes fiquem ao alcance de socorro de qualquer espécie.  Edição em uso: Viagem ao Rio Grande do Sul [a primeira edição é de 1823]. Tradução de Adroaldo Mesquita da Costa. Porto Alegre: ERUS, 1987.

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Durante vários dias o tempo se manteve muito frio; hoje (4 de julho) está sombrio, como na França, antes de nevar, tendo chovido uma boa parte do dia. Cai geada quase todas as noites.  Esse frio se repete anualmente; todos se queixam dele, o que é de admirar-se, pois ninguém toma providências para defender-se do inverno; só cuidam de agasalhar o corpo com roupas pesadas. Os porto-alegrenses vestem, no interior de suas casas, um espesso capote que lhes embaraça os movimentos e não os impede de tremer de frio; ninguém pensa em aquecer os aposentos, trazendo-os bem fechados e neles acendendo uma lareira. Há aqui um grande número de belas casas, bem construídas e bem mobiliadas, mas nenhuma delas possui lareira ou chaminé. Os aposentos são muito altos; as portas e as janelas fecham-se mal; estas, geralmente, têm vidros quebrados, que ninguém se importa de substituir, e há casas em que não se consegue procurar um objeto senão abrindo as venezianas e até mesmo as portas.  Este é Auguste de Saint-Hilaire, um naturalista francês que visitou nossa cidade nos dias 21 de junho a 21 de julho de 1820 – duzentos anos atrás. O trecho acima, bá, deu pra reconhecer? Apesar de estarmos agora num calorão… bem, num calorão porto-alegrense, essa observação de que as casas não são equipadas para o frio dá pra lembrar bem. Mas ele disse mais, muito mais. Repara nesta passagem, ele falando da região que hoje abriga o parque Marinha do Brasil: Desejando-se apreciar uma paisagem diferente, mas também cheia de belezas, basta, logo que se chega ao ponto mais alto da cidade, na rua da Igreja, voltar-se para o lado [sul] oposto àquele que acabo de descrever.  A parte da lagoa que banha a península do lado sudoeste forma uma grande enseada de forma semielíptica, de águas geralmente tranquilas. Um vale, largo e pouco profundo, limita a parte mais baixa da enseada; nas margens o conde Figueira mandou plantar, recentemente, uma aleia muito larga de figueiras selvagens que, futuramente, constituirá aprazível lugar para passeios.  Pra completar, que tal essa visão sobre a Santa Casa? Um grande hospital, construído fora da cidade!!! Fora da cidade, sobre um dos pontos mais elevados da colina onde ela se acha construída, iniciou-se a construção de um hospital, cujas proporções são tão grandes que provavelmente não seja terminado tão cedo; mas a sua posição foi escolhida com rara felicidade, porque é bem arejado, bastante afastado da cidade, para evitar contágios; ao mesmo tempo, muito próximo para que os doentes fiquem ao alcance de socorro de qualquer espécie.  Edição em uso: Viagem ao Rio Grande do Sul [a primeira edição é de 1823]. Tradução de Adroaldo Mesquita da Costa. Porto Alegre: ERUS, 1987.

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