Ensaio | Parêntese

Márcio Pinheiro: Maciel em transe

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Márcio Pinheiro: Maciel em transe Faça o teste: Allen Ginsberg, Carlos Santana, Abbie Hoffman, Carlos Castañeda, Timothy Leary, Jack Kerouac, Ravi Shankar, Alan Watts, Jimi Hendrix. Essas e muitas outras pessoas – ícones da cultura pop do final dos anos 60 e do começo dos anos 70 – entraram na cabeça de muita gente aqui no Brasil através de Luiz Carlos Maciel. Era ele, à frente da coluna Underground, no semanário Pasquim, quem antenava o público brasileiro com o que estava acontecendo no planeta. Pelos serviços prestados, Maciel ganhou um apelido, o Guru da Contracultura, que, com o tempo, se transformou em rótulo. Mais tarde ele iria rejeitar. “Não aceito o guru. Não tenho guru nem sou guru de ninguém. Na minha filosofia, cada um tem de ser seu próprio guru”, me disse o próprio Maciel numa conversa que tivemos num café do Moinhos de Vento no começo do milênio. Guru ou não, Maciel também escreveu um manifesto, resumindo boa parte das experiências que teve naquela época. As Quatro Estações, publicado em 2001, foi um exercício memorialístico e um balanço histórico do que havia sido produzido culturalmente no Brasil nas décadas de 60, 70, 80 e 90. Uma maneira de, em tempos de crise, se voltar para o passado para tentar compreender o presente e vislumbrar o que poderia acontecer no futuro. A compreensão destes três tempos sempre foi uma obsessão. Gaúcho de Porto Alegre, onde nasceu em março de 1938, Maciel, com o nome tirado de uma homenagem ao líder comunista Luís Carlos Prestes, estudou no tradicional colégio jesuíta da capital gaúcha antes de se formar em Filosofia pela universidade federal aos 20 anos. Ligado a saraus poéticos e grupos teatrais da cidade, Maciel, no final dos anos 50, fez uma excursão pelo nordeste do país com uma escala em Salvador.  Nunca mais voltaria para Porto Alegre, cidade com que – anos mais tarde – ele confessaria manter uma estranha relação. “É indescritível. Tenho um texto, em As Quatro Estações, que fala de Porto Alegre, a partir de um sonho recorrente que eu tinha. Foi a cidade da minha adolescência. Descobri o teatro, a literatura e a filosofia no fim dos 50. Fiz parte dos grupos teatrais Clube de Teatro, Teatro Universitário e Teatro de Equipe. Participei do grupo Quixote, no qual publiquei meus poemas. Descobri e li Sartre e Samuel Beckett. Cursei a Faculdade de Filosofia. Além disso, era sócio do Clube de Cinema e me interessava por tudo que acontecia culturalmente”.  Nesta mesma conversa, Maciel lembrou que entre os anseios de sua geração um é que o Brasil tivesse uma arte de ponta, uma cultura avançada, à altura dos países do Primeiro Mundo. Havia um grande interesse pela arte de vanguarda e a admiração por Drummond, João Cabral e Samuel Beckett, de quem Maciel dirigiu uma montagem de Esperando Godot. Todo esse vínculo com a capital gaúcha seria atropelado e superado por novas emoções. Em Salvador, Maciel pegaria o auge da Renascença baiana patrocinada pelo reitor Edgard Santos e ficaria próximo de […]

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