Memória

1903-04: Morte de Júlio de Castilhos e seu monumento

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1903-04: Morte de Júlio de Castilhos e seu monumento

PORTO ALEGRE 250 ANOS:  HISTÓRIA, FOTOGRAFIA E REPRESENTAÇÕES

1903-04: Morte de Júlio de Castilhos e seu monumento – História

Em 24 de outubro de 1903 morria Júlio de Castilhos, com 43 anos de idade. Para além das névoas que ainda persistem sobre o horário e local exatos onde expirou a liderança máxima do republicanismo rio-grandense, do que não restam dúvidas foi a comoção que seu passamento provocou. Para avaliarmos o tamanho da repercussão restaram-nos os relatos e as fotos, dando conta da extensão do cortejo funerário. Com direito ao acompanhamento de uma banda marcial, a guaipecada de rua e a infância descalça da capital da ordem e do progresso positivista (Fig. 1). Com a devida vênia de Guy Debord, quase que uma avant-première gaúcha da sociedade do espetáculo.

Tão célere quanto o tumor que vitimou Castilhos foram as iniciativas dos seus correligionários para monumentalizar seu herói. Já em janeiro de 1904, autorizado pela Assembleia, o governo positivista contratou com Décio Villares (além de hábil pintor-escultor, versado na doutrina de Augusto Comte) a ereção de dois monumentos glorificadores do grande patriarca. Um orçamento e tanto: 350 contos de réis. Um para o Cemitério da Santa Casa (Fig. 2), prontificado por primeiro e mais comedido em termos ornamentais: restrito a uma imagem da República, familiarmente receptiva e, no alto  da coluna piramidal, um medalhão de Castilhos e uma águia sobre o livro da constituição, para designar sua elevação do espírito e respeito às leis (Fig. 2). Outro para a praça Marechal Deodoro, só inaugurado em janeiro de 1913, e tão rebuscado e prolixo de elementos simbólicos que precisou de um folheto explicativo para ajudar no seu entendimento. Com o júbilo dos republicanos e desconforto dos liberais.

1903-04: Morte de Júlio de Castilhos e seu monumento – Representações

Para além dos arroubos glorificadores (houve até quem propusesse a demolição do teatro São Pedro e do Palácio de Justiça para ele ser melhor apreciado), dos resmungos estéticos e ideológicos (muito aplauso para um déspota autoritário, se dizia e ainda se diz), o fato é que o monumento sempre despertou muito a atenção. Não foi diferente com os artistas. Foi assim com Ernst Zeuner (Zwickau/Alemanha, 1898 – Porto Alegre, 1967), quando executou uma série de gravuras para ilustrar a Revista do Ensino, da Secretaria de Educação (Fig. 3). Assim como Vera B. Soares (R. Janeiro, 1929 – Porto Alegre, em atividade) na sua série sobre a Praça da Matriz (Fig. 4) e com o sempre atento e inspirado ilustrador das referências urbanas da cidade que é Joaquim da Fonseca (Alegrete/RS, 1935 – Porto Alegre, em atividade).


Fig. 1 – Funerais de Júlio de Castilhos. Autor n/id., 1903. Tirado de: BUCCELLI, Vittorio. Uma viagem ao Rio Grande do Sul. Brasília, Senado Federal, 2016, p.222-b.

Fig. 2 – Túmulo de Júlio de Castilhos. Décio Villares, n/id. Cemitério da Santa Casa, Porto Alegre – RS. Foto de: Luciane de Oliveira/SMC PMPA. 

Fig. 3 – A vida na cidade: aspectos característicos de uma cidade. Ernst Zeuner, s.d. Têmpera sobre papel, 22,5 x 17,5 cm. Acervo do MARGS, Porto Alegre, RS.

Fig. 4 – Praça da Matriz com a Catedral de Porto Alegre. Vera B. Soares, 2007. Aquarela, 20 x 20 cm. Coleção da Autora, Porto Alegre, RS. Tirado de: Catálogo da Chico Lisboa. PELIN, Vera (Org.). Porto Alegre, 2010, p. 187.

Fig. 5 – Praça da Matriz. Joaquim da Fonseca, s/data. Aquarela sobre papel. Coleção do autor, Porto Alegre, RS.

Arnoldo Doberstein é professor e estudioso da história de Porto Alegre.

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