1915: A morte de Wenzel Forberger
PORTO ALEGRE 250 ANOS: HISTÓRIA, FOTOGRAFIA E REPRESENTAÇÕES
1915: A morte de Wenzel Forberger – História
Com o título “Desastre e Morte”, A Federação de 25/6/1915 (p. 6) noticiava que “um trem da viação férrea apanhou, ontem pela manhã, um operário, esmagando-o. O desastre se deu na ponte que atravessa o rio Gravataí”. O maquinista depôs que, vendo o vulto, “apitou diversas vezes”. Mas, depois de se afastar, “o mesmo homem chegou novamente à linha, sendo colhido pelo trem”. O corpo foi identificado como de “Wenzel Forberger, de nacionalidade alemã, que fora empregado nas oficinas de escultura do Sr. João Vicente Friederichs”, sendo que “era solteiro, contava com 56 anos de idade, deixara, há meses, aquela casa… entregando-se ao vício da embriaguês…Neste estado vivia ele ultimamente.” (Ibidem). Só faltou transformar o título da matéria. De “Desastre e Morte” para “Desastre ou Suicídio?”.
Na residência do morto (rua São José, 44, Navegantes) inventariou-se “um saco contendo roupas de uso, um caixão de ferramentas, diversos moldes e estatuinhas, duas mesas, duas cadeiras de pau” (Arquivo Público do Estado, Doc. 389 – Maço 18 – Estante 3). Nada mais. O pouco mais que sabemos de Forberger vem de Fernando Corona, contando que João Vicente, por volta de 1910, em viagem para Buenos Aires, passou por Santa Maria, onde “falaram a ele de um homem solitário que vivia na miséria. Fazia desenhos que vendia para comer alguma coisa. Era um homem esquisito e não falava com ninguém … soube que era escultor (com menção honrosa da Escola de Belas Artes de Viena) e convidou-o a vir para Porto Alegre, [onde] logo verificaram que se tratava de um grande estatuário … e que, durante o trabalho, costumava cantar em surdina melodias de sua terra longínqua” (Correio do Povo, 12/1/1975, p. 20).
Wenzel Forberger e sua estátua – Representações
Do muito pouco que sabemos do resto de sua vida e obra (atenção, bacharelandos sem tema pra TCC!) fica a provisória impressão que se tratava de um paradoxo. Nas sociabilidades, um sorumbático que falava pouco e de quando em vez afogava suas mágoas nalguns schnapps a mais. No exercício do ofício, um saudoso que cantarolava velhos lieder de sua terra natal. E, na sua estatuária, um divertido. Esclarecemos melhor este último enunciado.
Ao produzir seu Mercúrio para a Cervejaria Bopp (Foto 1), recusou-se a conferir a solenidade que se recomendava à divindade greco-romana. Representou-o como alguém atordoado pelos fumos do aperitivo, fazendo um 4 para demonstrar firmeza mas amparando-se na luminária para não despencar parede abaixo. No grupo do Atlante, Europa e América, dos Correios e Telégrafos, atual Memorial do Rio Grande do Sul, e já que o contrato assim o impedia, parece que ousou “autografar” seu trabalho usando da própria imagem para modelo (Fig. 2). No friso da Previdência do Sul (atual Banco Safra) também “assinou” no canto de sua obra, com um cacete na mão, como procedia quando a piazada fazia dele pirraça ao chegar mamado em casa (Fig. 3). Do resto que pouco sabemos estão aí a Leitura Materna, dos Correios, atual Memorial (Fig. 4), e as cariátides do antigo Banco Alemão, das quais, por obra e graça da picareta civilizadora, só nos restaram as fotos (Fig. 5).
Arnoldo Doberstein é professor e estudioso da história de Porto Alegre.