1924: A Faculdade de Medicina e o Edifício Ely
PORTO ALEGRE 250 ANOS: HISTÓRIA, FOTOGRAFIA E REPRESENTAÇÕES
1924: A Faculdade de Medicina e o Edifício Ely – História
O ano de 1924 é marcado pela inauguração de dois prédios especialmente importantes para a história da arquitetura de Porto Alegre: a Faculdade de Medicina e o Edifício Ely. Ambos projetados por Theo Wiederspahn (Wiesbaden/Alemanha, 1878 – P.A., 1952).
A Faculdade de Medicina foi iniciada em 1912, mas por dificuldades decorrentes do conflito mundial e da crise subseqüente as obras foram interrompidas. Wiederspahn passou a fazer parte de “uma lista negra que circulava na cidade, cuja finalidade era excluir os alemães e os italianos do mercado de trabalho”, sendo as obras foram entregues ao engenheiro João Baptista Pianca, “de formação arquitetônica bastante precária”. A conclusão só ocorreu em 1924, “com a qualidade plástica do prédio totalmente comprometida” (WEIMER, Günter. Theo Wiederspahn: arquiteto. Porto Alegre, EDIPUCRS, 2009, p.34).
O Edifício Ely, iniciado em 1922, teve no conflito mundial (1914-18) o pano de fundo para a prosperidade dos negócios de Nicolau Ely, um dos tantos comerciantes teuto-brasileiros que se aproveitaram da conjuntura para aumentarem suas fortunas (comentários da tradição oral dão conta que ganhou muito dinheiro com seus estoques de tecidos ingleses importados antes da guerra). O prédio tinha o térreo para os negócios de Ely e os superiores para aluguel de escritórios. É visto por alguns como influenciado pela arquitetura de Wiesbaden, cidade natal de Wiederspahn. A ser assim, e considerando o entorno de casarios onde foi erguido, podemos estar diante de uma questão em aberto: uma atualização da inteligência, ou mais um caso de idéias fora do lugar (Fig. 3)?
Wiederspahn, o Edifício Ely e a Faculdade de Medicina – Representações
Após a inauguração dos dois prédios, Wiederspahn continuou com sua empresa até meados de 1930, quando faliu em virtude da crise da Bolsa de 1929. A partir daí recebeu encomendas para igrejas evangélicas, aceitou gerenciar obras de outros arquitetos e continuou dirigindo uma espécie de Escola de Artes e Ofícios que funcionou em colégios como o Farroupilha e Concórdia, até ser fechada, junto com seu próprio escritório, às vésperas da II Guerra. Sob a alegação, não sem algum fundamento, de ter se tornado um centro de propaganda nazista.
Num misto de ressentimento e depressão, com seus projetos, correspondências, livros, fotografias e aquarelas, Wiederspahn fechou-se em copas no seu sítio em Ponta Grossa. Antes de falecer (1952), viu os arquitetos “modernistas” dos anos 1940-50 atacarem sua arquitetura como sendo apenas “de fachada”. Foi só a partir de 1980 que seu legado e documentação começaram a vir à luz, primeiro com Gunter Weimer e atualmente com a Delfos – Espaço Cultural da PUCRS, onde, em recente exposição, foram mostradas diversas novidades. Entre elas uma pouco conhecida aquarela de Wiederspahn mais jovem (Fig. 1) e uma outra do próprio Edifício Ely, feita por seu escritório (Fig. 3).
Quanto à Faculdade de Medicina, apesar dos cortes em seu projeto original, continua despertando olhares de admiração. Nossos e de artistas (Figs. 4 e 5) como Alberto Scherer (Porto Alegre, 1938 – Em atividade) e Joaquim da Fonseca (Alegrete/RS, 1935 – Em atividade). Olhares de admiração e de demarcação de território por parte destes equivocados representantes da contracultura, que são nossos pichadores noturnos.
Arnoldo Doberstein é professor e estudioso da história de Porto Alegre.