1931 – O edifício do Cinema Imperial
PORTO ALEGRE 250 ANOS
1931 – O edifício do Cinema Imperial – História
No seu balanço de 1930, os diretores Felisberto Azevedo, Possidônio da Cunha e Manoel Leite Rangel, comunicavam aos associados da Companhia Previdência do Sul a conclusão do seu novo prédio, de doze pavimentos, construído pela firma Azevedo, Moura, Gertum. O térreo já estava alugado para o Cinema Imperial, o 2º e o 3º pisos para escritórios e os demais para moradias de famílias (A Federação, 26.03.1931, p. 6). Um investimento e tanto, capitaneado por sobrenomes lusos, num contexto de retração geral de créditos, após o crash da Bolsa de Nova Yorque, em 1929. Um tapa a mais naquele imaginário que acha que Porto Alegre só saiu do seu marasmo lusitano com a chegada dos imigrantes. E um caso de cidade moderna, cuja decadência (a partir dos anos 1970) merece um estudo especial. Para entendermos melhor a desocupação do centro da cidade.
O edifício representa um marco para a história da arquitetura e do cinema em Porto Alegre. Considerado o seu primeiro arranha-céu (Fig. 1, esquerda), chamava a atenção por seu estilo art déco, com ornamentos inspirados na arte marajoara. Inaugurado em 18.04.1931, o Cine Imperial tinha uma das maiores e mais luxuosas salas de cinema da cidade, com 1.632 lugares. Utilizada para exibição de filmes e para espetáculos teatrais e musicais (Fig. 1, direita). E com uma aparelhagem moderna e adaptada à grande inovação que marcou o cinema ao final dos anos 1920: os filmes sonoros.
O CINEMA E SEU ENTORNO PUBLICITÁRIO – REPRESENTAÇÕES
O cinema dos anos 1930 em Porto Alegre já era um produto que sustentava, e também se alimentava de, uma ampla gama de outras publicidades. Nos jornais e revistas eram muitas as matérias sobre artistas e filmes. Assim como capas com modelos visivelmente inspirados nas divas hollywoodianas (Fig. 2). Francis Pelichek, artista plástico, agitador cultural e boêmio inveterado, chegou a ter uma seção da Revista do Globo onde relacionava personagens e fatos do cotidiano com filmes conhecidos de todos (Fig. 3). Artista plástico, teatrólogo, literato e editor independente, José de Francesco publicava a revista A Tela, com a qual dialogava com congêneres do centro do país, e cujas capas e matérias ilustrava com produções próprias e de outros artistas locais (Fig. 4).
Por fim, os anúncios sobre filmes em exibição (Fig. 5 – esquerda). Bem como cartazes produzidos pelas próprias distribuidoras do exterior ou centro do país. Como o caso do filme Alleluia (Fig. 5, esquerda), em cartaz no cinema Imperial (mai/1931). Um musical com a história do filho de um produtor de algodão que, depois de vender seu produto, se apaixona por uma dançarina e perde todo seu dinheiro. Mas, ajudado por um irmão pregador, se recupera. Inclusive salvando a bailarina “perdida”. Dizem que o filme fez muito sucesso. Quem sabe até pela analogia com algum inquilino do Edifício Imperial.
Arnoldo Doberstein é professor e estudioso da história de Porto Alegre.