Memória

O Grupo de Teatro Província: uma trajetória dos anos 70 (Parte 2)

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O Grupo de Teatro Província: uma trajetória dos anos 70 (Parte 2)
No início de 1974 eu me preparava para um período de estudos nos Estados Unidos cumprindo um programa de Mestrado em Teatro. Por conta desta grande reviravolta em minha vida, não tinha condições de encarar um novo projeto com o grupo, com tudo o que implica uma direção teatral em termos de envolvimento, tempo e suor. Mas o Província não podia parar. Convidamos então Maria Helena Lopes, nossa grande amiga de sempre e professora respeitada dos tempos de escola, que fora inclusive membro estável do GTP na sua primeira fase, para encenar um espetáculo que enfeixasse textos de Brecht: cenas de peças, poemas, passagens em prosa. A contribuição que eu pude prestar naquele momento foi elaborar a dramaturgia em parceria com a diretora. O espetáculo resultante não se inseria no programa da experimentação radical que caracterizava os trabalhos da segunda fase do GTP. Mas nem por isso era uma montagem tradicional.  Maria Helena costurou no palco todo aquele material heteróclito, transitando com fluidez entre os modos lírico, épico e dramático. Para tanto, manteve um dos pilares da estética do grupo: a rejeição ao ilusionismo realista, substituído pelo anti-ilusionismo, isto é, pela teatralidade assumida. Com meia dúzia de elementos de cenografia (mesas, cadeiras), manipulados pelos próprios atores à vista do público, e com poucas peças de figurino e adereços igualmente básicos, a diretora criou uma cena despojada de informações descritivas, mas abundante em metáforas e metonímias. A alusão em lugar da ilusão, solicitando a imaginação da plateia e exigindo desta uma postura ativa na recepção da obra teatral. Neste sentido, Brecht em Câmara ao mesmo tempo aproximava-se da proposta brechtiana e da “provinciana”. O palco enxuto, bem o sabemos, pode correr o risco de tornar-se um tanto inóspito. Isso não acontecia, porém, graças ao esmerado trabalho de direção de atores, marca registrada de Lena Lopes, aquecendo a cena com a densa humanidade do homem social de Bertolt Brecht. No ano seguinte (1975), Haydée Porto foi encarregada de montar o próximo espetáculo do GTP. Pela primeira vez, alguém do grupo, que não eu (que àquelas alturas ainda labutava no meu mestrado no estrangeiro), era responsável por uma encenação. Como vimos há pouco, o caso de Maria Helena Lopes era um ponto fora da curva, na medida em que se tratava de uma profissional de fora do grupo convidada para uma parceria. Haydée, porém, era coparticipante ativíssima do GTP. Mas sempre trabalhara como atriz até então. A peça de Martins Pena foi sua primeira direção profissional. Mas não esqueçamos que ela era formada em Direção Teatral pelo DAD e também havia atuado algumas vezes como assistente de direção em montagens profissionais.  O Província da segunda fase até então privilegiava a dramaturgia original, produzida pelo próprio grupo, seja na forma de criação coletiva (“Família”,) da improvisação como ferramenta para levantar um texto dramático (a “Máscara da Face”), ou como autoria de um de seus membros, no caso, eu. Montar uma peça preexistente, de alguém de fora do grupo, era uma prática excepcional. Acontecera no […]

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