Memória

O Grupo de Teatro Província: uma trajetória dos anos 70

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O Grupo de Teatro Província: uma trajetória dos anos 70
(Este texto reúne anotações para um livro em preparação, que se propõe contar a história do Grupo de Teatro Província. É um projeto em parceria com Antônio Hohlfeldt, crítico teatral que acompanhou de perto a trajetória do grupo.) Somos de uma geração que acreditava no teatro de grupo. Funcionar como um coletivo de profissionais do palco tem várias vantagens. Abre espaço para uma discussão fértil na busca de consensos quanto a questões programáticas, objetivos, posicionamento ideológico e também a questões estéticas de linguagem teatral. Além disso, o hábito de trabalhar juntos desenvolve um vocabulário comum e um compartilhamento de códigos, que vão aperfeiçoando as competências e aprimorando os resultados. O Grupo de Teatro Província, fundado em 1970 em Porto Alegre, viveu intensamente essa experiência. E no final da década, precisamente em 1980, saiu de cena para sempre, deixando um legado de quinze espetáculos e tendo cumprido uma trajetória que marcou, influenciou e renovou o teatro gaúcho. Entretanto, nos seus dois primeiros anos de vida, o GTP não poderia chamar-se propriamente grupo de teatro, pois essas questões essenciais de fundo e de forma ainda não faziam parte do seu ideário. O objetivo inicialmente era apenas viabilizar, através do esforço conjunto, a possibilidade de fazermos teatro profissional em Porto Alegre. O teatro local naqueles dias era visto com preconceito pelo público da cidade, como sendo de nível inferior se comparado às produções que vinham do Rio de Janeiro e de São Paulo. Queríamos provar que tínhamos condições de fazer um trabalho tão bom ou quem sabe até melhor. O “profissional” a que nos referíamos, pois, dizia respeito somente à competência artística. Sabíamos que não podíamos competir com o profissionalismo no tocante à questão financeira. Os colegas do “eixo” levantavam produções com maiores recursos, que se pagavam e remuneravam as equipes com a venda dos ingressos. Essa viabilização econômica era impossível num ambiente  cultural limitado como o nosso. Não contávamos com grandes financiamentos e, por causa dos narizes torcidos, não conseguíamos atrair plateias numerosas. Por isso mesmo até, nossos ingressos tinham que ser mais baratos. O público era um alvo a ser conquistado. Tínhamos consciência, portanto, de que éramos profissionais que não podiam sobreviver da própria profissão. Porto Alegre, RS, era ainda uma “província”.  Foi esta percepção clara e realista que nos sugeriu o nome do grupo: queríamos assumir as nossas insuficiências, mas provar que, apesar delas, éramos capazes de realizar um teatro de excelência.  Para tanto, bastaria que dedicássemos as mesmas doses de empenho, disciplina e horas de ensaio quanto nossos colegas do eixo. No tocante a empenho e disciplina estávamos seguros. Havíamos cursado o CAD, Centro de Arte Dramática da UFRGS – que logo se transformaria em DAD, Departamento de Arte Dramática -, e   uma das coisas mais valiosas inculcadas em nós pela escola fora uma sólida ética de trabalho.  Para o novo grupo, a qualidade da dramaturgia era ponto inegociável. Recusávamo-nos terminantemente a fazer teatro “comercial” – comédias leves, digestivas, tão em voga na época. Ao mesmo tempo, porém, […]

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