Crônica | De cara com o corona | Parêntese

Nathallia Protazio: Campanha de cidadania

Change Size Text
Nathallia Protazio: Campanha de cidadania Quando eu aceitei a promoção para assumir as atividades de farmacêutica clínica numa nova filial da rede onde trabalho, eu não fazia ideia de que a minha primeira campanha de vacinação da gripe se passaria no olho deste furacão chamado Covid-19. Garanto a vocês que nem em sonho eu ousei imaginar o tamanho da responsabilidade que estava assumindo. É incrível como no período de um mês mudamos nosso vocabulário de ‘‘fantasia de carnaval’’, ‘‘bloco de rua’’, ‘‘tomar um trago’’, ‘‘epocler’’, ‘‘engov’’, ‘‘desfile de escola de samba’’ e ‘‘praia’’ por ‘‘coronavírus’’, ‘‘álcool gel’’, ‘‘máscara’’, ‘‘situação atual’’, ‘‘recomendações’’, ‘‘vacina’’, ‘‘impeachment’’, ‘‘quarentena’’. A impressão que eu tenho é que não bastava 2020 ser ano bissexto, faltava um acontecimento entre o Carnaval e a Páscoa. Então, nasceu um novo significado pra quaresma católica: uma quarentena por pandemia viral. Não, não estamos num filme com zumbis ou um vento demoníaco que provoca a morte de mais da metade do mundo. O vírus é real. Será provavelmente o maior desafio do ano e ninguém estava preparado para sua chegada. Principalmente eu. Meu treinamento para farmácia clínica consistiu num curso intensivo teórico-prático de 50 horas-aula no qual a maior parte do conteúdo foi voltado para vacinação. Aprendi técnicas e ferramentas que me auxiliariam a realizar meu trabalho na maior excelência possível desde o primeiro atendimento. Eu estava preparada para tudo: seringas, aplicações em diferentes vias e músculos, homogeneização de suspensões, aspiração de soluções, posição de bebês, comunicação com adultos, adolescentes e pais etc. Eu só não estava preparada para o mais importante, atender pessoas em pânico. As vacinas estavam sendo esperadas pelo público desde a semana após o carnaval (ou antes). Aos poucos o discurso de que elas chegariam na mesma época, tanto no setor privado como no público, até o dia 23 de março foi sendo cada vez mais repetido. Semana passada a cada 10 pessoas que entravam na farmácia 8 queriam álcool gel e máscara e 9 perguntavam da vacina da gripe. A pessoa que não entrou nessa estatística ou estava perdida ou nem perguntava porque já tinha ouvido a resposta dada ao cliente anterior. Você já repetiu a mesma frase durante muitas horas pra mesma pergunta feita por pessoas diferente? Se não, sinta-se privilegiado. Esta é uma das piores coisas que se faz quando trabalhamos com o público. Repetir a mesma informação o dia todo para centenas de pessoas. Felizmente na última sexta-feira à noite as vacinas chegaram, certo? – Hahahahahahahaha! Menos de meia hora depois da sua chegada eu apliquei a primeira vacina da gripe da minha vida. No dia seguinte, por falta de divulgação, não houve muito movimento, foram só 46. O fim de semana trouxe o domingo de descanso e o último samba. Logo as notícias de cancelamento de eventos, cursos, aulas, viagens, casamento da amiga, foram me encontrando. A sensação da vida de todo mundo entrando em stand by começou a me afetar. Mas quem trabalha na área da saúde não pode se dar ao luxo de ficar em casa. […]

Quer ter acesso ao conteúdo exclusivo?

Assine o Premium

Você também pode experimentar nossas newsletters por 15 dias!

Experimente grátis as newsletters do Grupo Matinal!

Quando eu aceitei a promoção para assumir as atividades de farmacêutica clínica numa nova filial da rede onde trabalho, eu não fazia ideia de que a minha primeira campanha de vacinação da gripe se passaria no olho deste furacão chamado Covid-19. Garanto a vocês que nem em sonho eu ousei imaginar o tamanho da responsabilidade que estava assumindo. É incrível como no período de um mês mudamos nosso vocabulário de ‘‘fantasia de carnaval’’, ‘‘bloco de rua’’, ‘‘tomar um trago’’, ‘‘epocler’’, ‘‘engov’’, ‘‘desfile de escola de samba’’ e ‘‘praia’’ por ‘‘coronavírus’’, ‘‘álcool gel’’, ‘‘máscara’’, ‘‘situação atual’’, ‘‘recomendações’’, ‘‘vacina’’, ‘‘impeachment’’, ‘‘quarentena’’. A impressão que eu tenho é que não bastava 2020 ser ano bissexto, faltava um acontecimento entre o Carnaval e a Páscoa. Então, nasceu um novo significado pra quaresma católica: uma quarentena por pandemia viral. Não, não estamos num filme com zumbis ou um vento demoníaco que provoca a morte de mais da metade do mundo. O vírus é real. Será provavelmente o maior desafio do ano e ninguém estava preparado para sua chegada. Principalmente eu. Meu treinamento para farmácia clínica consistiu num curso intensivo teórico-prático de 50 horas-aula no qual a maior parte do conteúdo foi voltado para vacinação. Aprendi técnicas e ferramentas que me auxiliariam a realizar meu trabalho na maior excelência possível desde o primeiro atendimento. Eu estava preparada para tudo: seringas, aplicações em diferentes vias e músculos, homogeneização de suspensões, aspiração de soluções, posição de bebês, comunicação com adultos, adolescentes e pais etc. Eu só não estava preparada para o mais importante, atender pessoas em pânico. As vacinas estavam sendo esperadas pelo público desde a semana após o carnaval (ou antes). Aos poucos o discurso de que elas chegariam na mesma época, tanto no setor privado como no público, até o dia 23 de março foi sendo cada vez mais repetido. Semana passada a cada 10 pessoas que entravam na farmácia 8 queriam álcool gel e máscara e 9 perguntavam da vacina da gripe. A pessoa que não entrou nessa estatística ou estava perdida ou nem perguntava porque já tinha ouvido a resposta dada ao cliente anterior. Você já repetiu a mesma frase durante muitas horas pra mesma pergunta feita por pessoas diferente? Se não, sinta-se privilegiado. Esta é uma das piores coisas que se faz quando trabalhamos com o público. Repetir a mesma informação o dia todo para centenas de pessoas. Felizmente na última sexta-feira à noite as vacinas chegaram, certo? – Hahahahahahahaha! Menos de meia hora depois da sua chegada eu apliquei a primeira vacina da gripe da minha vida. No dia seguinte, por falta de divulgação, não houve muito movimento, foram só 46. O fim de semana trouxe o domingo de descanso e o último samba. Logo as notícias de cancelamento de eventos, cursos, aulas, viagens, casamento da amiga, foram me encontrando. A sensação da vida de todo mundo entrando em stand by começou a me afetar. Mas quem trabalha na área da saúde não pode se dar ao luxo de ficar em casa. […]

Quer ter acesso ao conteúdo exclusivo?

Assine o Premium

Você também pode experimentar nossas newsletters por 15 dias!

Experimente grátis as newsletters do Grupo Matinal!

RELACIONADAS
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHEUM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHEUM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.