Crônica | Parêntese

Nathallia Protazio: Gênesis 1

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Nathallia Protazio: Gênesis 1 Andei pensando. Se a Serpente seduziu Eva a comer do fruto e ela comeu primeiro e depois foi a vez do homem. Sinto muito decepcionar os cristãos presentes, mas o pecado original foi a Eva comer o cu do Adão. Não tenho dúvidas. E mais. Foi uma relação a três com a Serpente, na qual depois eles ainda fizeram troca-troca. Pois, ambos foram expulsos do Paraíso, não só a Eva, por ter começado tudo, mas o Adão também, por ter seguido seu exemplo. Tá tudo lá na bíblia, só não entendeu quem não quis. Tá. Agora você deve estar pensando que esta quarentena tá me afetando e eu dei pra blasfêmias gratuitas. Alto lá! Tais reflexões, esclareço, nasceram muito antes da pandemia. Há algum tempo tal assunto tem povoado minhas ruminações, afinal, metafisicamente, o cu do Adão é público. Imagine comigo a construção da masculinidade sob esta Verdade: o primeiro ato sexual praticado na história da humanidade foi a primeira Mulher comer o cu do primeiro Homem, e então lhe abriram a ambos os olhos. O grande lance do machismo é colocar a humanidade dividida em dois grandes grupos: Homens Heterossexuais e o resto. A construção desta masculinidade intocável é baseada numa única diretriz: o pau é a coisa mais importante do mundo e quem a possui penetra, nunca é penetrado. Simples. Uma mulher é um corpo sem pênis. Retira-se metade da população mundial. Um homossexual é um homem que é penetrado. Pronto. A equação funciona. Alguns diriam a existência de um impasse: gay ativo. Pra começar, de acordo com as minhas pesquisas discutindo com integrantes variados do grupo dos excluídos, ou seja, homens-não-heteros, um gay, alguma hora dá o cu. Em segundo lugar, até o termo ‘‘ativo’’ pra designar categorias dentro de uma relação que deveria ser de dois iguais é reflexo do machismo. Ativo é aquele que penetra. Cria-se mais uma maneira de ver tudo sob a óptica instaurada. Ou você nunca se pegou analisando um casal de lésbicas procurando a ‘‘machorra’’ e a ‘‘feminina’’? Portanto, a fórmula deles funcionou.  O mundo foi catequisado. Se você tem um pênis e não deixa nada entrar em você, parabéns! Você é superior ao resto da humanidade. Assim se mantém uma ideia de superioridade supervalorizando tudo que se pode fazer com um pênis num mundo moldado para ver como divertido qualquer atividade que o envolva. Gelo em miquitório pra brincar enquanto mija. Sério? Sexo só é sexo se houver penetração peniana. E só foi bom se o dito-cujo ejaculou. Estar em casa sem fazer nada, descansando, é sinônimo de ‘‘coçando o saco’’. Olha aquele cara como é ‘‘Boa Pinta’’. ‘‘Pintudo’’. Ter um pênis retira um monte de expectativas das costas desse homem, inclusive com a própria saúde e higiene – não consigo entender como isso é visto como vantagem. Nunca conheci um homem que se enxugasse com papel higiênico. Morrem de câncer de próstata com medo de ficarem de pau duro na hora do exame de toque. Qualé! Encare o fato […]

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Andei pensando. Se a Serpente seduziu Eva a comer do fruto e ela comeu primeiro e depois foi a vez do homem. Sinto muito decepcionar os cristãos presentes, mas o pecado original foi a Eva comer o cu do Adão. Não tenho dúvidas. E mais. Foi uma relação a três com a Serpente, na qual depois eles ainda fizeram troca-troca. Pois, ambos foram expulsos do Paraíso, não só a Eva, por ter começado tudo, mas o Adão também, por ter seguido seu exemplo. Tá tudo lá na bíblia, só não entendeu quem não quis. Tá. Agora você deve estar pensando que esta quarentena tá me afetando e eu dei pra blasfêmias gratuitas. Alto lá! Tais reflexões, esclareço, nasceram muito antes da pandemia. Há algum tempo tal assunto tem povoado minhas ruminações, afinal, metafisicamente, o cu do Adão é público. Imagine comigo a construção da masculinidade sob esta Verdade: o primeiro ato sexual praticado na história da humanidade foi a primeira Mulher comer o cu do primeiro Homem, e então lhe abriram a ambos os olhos. O grande lance do machismo é colocar a humanidade dividida em dois grandes grupos: Homens Heterossexuais e o resto. A construção desta masculinidade intocável é baseada numa única diretriz: o pau é a coisa mais importante do mundo e quem a possui penetra, nunca é penetrado. Simples. Uma mulher é um corpo sem pênis. Retira-se metade da população mundial. Um homossexual é um homem que é penetrado. Pronto. A equação funciona. Alguns diriam a existência de um impasse: gay ativo. Pra começar, de acordo com as minhas pesquisas discutindo com integrantes variados do grupo dos excluídos, ou seja, homens-não-heteros, um gay, alguma hora dá o cu. Em segundo lugar, até o termo ‘‘ativo’’ pra designar categorias dentro de uma relação que deveria ser de dois iguais é reflexo do machismo. Ativo é aquele que penetra. Cria-se mais uma maneira de ver tudo sob a óptica instaurada. Ou você nunca se pegou analisando um casal de lésbicas procurando a ‘‘machorra’’ e a ‘‘feminina’’? Portanto, a fórmula deles funcionou.  O mundo foi catequisado. Se você tem um pênis e não deixa nada entrar em você, parabéns! Você é superior ao resto da humanidade. Assim se mantém uma ideia de superioridade supervalorizando tudo que se pode fazer com um pênis num mundo moldado para ver como divertido qualquer atividade que o envolva. Gelo em miquitório pra brincar enquanto mija. Sério? Sexo só é sexo se houver penetração peniana. E só foi bom se o dito-cujo ejaculou. Estar em casa sem fazer nada, descansando, é sinônimo de ‘‘coçando o saco’’. Olha aquele cara como é ‘‘Boa Pinta’’. ‘‘Pintudo’’. Ter um pênis retira um monte de expectativas das costas desse homem, inclusive com a própria saúde e higiene – não consigo entender como isso é visto como vantagem. Nunca conheci um homem que se enxugasse com papel higiênico. Morrem de câncer de próstata com medo de ficarem de pau duro na hora do exame de toque. Qualé! Encare o fato […]

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