Nossos Mortos

Foi no 46

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Foi no 46 Sarau Elétrico: Chamamé y otros Gauchismos com Luiz Carlos Borges - Reprodução

Eu tinha cruzado com o Luiz Carlos Borges algumas vezes antes do dia da conversa que se vai ler a seguir. Primeiro tinha ouvido algumas canções dele – tinha uns elepês, sabia ao menos assobiar algumas delas. Depois, a partir de 1993, convivendo no trabalho com o Luiz Sérgio Metz, vulgo Jacaré, encontrei ao vivo com o Borges e outros de seus amigos. 

Por esse tempo, trabalhei na Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre. Era o segundo governo do PT na capital; na Cultura, tínhamos um norte seguro, no plano conceitual, que era o de prestigiar todas as formas culturais relevantes no nosso âmbito de ação, da música gauchesca ao hip-hop, do jazz ao mundo erudito. Nossa sede de acertar era imensa, proporcional ao momento auspicioso que se vivia por aqui, o apogeu da redemocratização, agora balizados pela nova Constituição e por um sonho de integração regional marcado pelo começo do Mercosul, versão local do milagre que nos parecia ser a União Europeia. 

Foram quatro anos para mim magníficos de aprendizado e de um serviço público a meu juízo muito bem prestado. No processo, ganhei alguns amigos de grande valor, e entre eles o Jaca. Só que o Jaca morreu em 1996, muito jovem ainda, aos 46 anos. 

Ele tinha me convidado algumas vezes para ir ao Festival da Barranca, que ocorre em São Borja a cada Páscoa. O Jaca queria muito que eu conhecesse o Aparício Silva Rillo, que ele admirava muito e eu também, mas à distância, pelos textos escritos e as letras de canção, algumas das quais em parceria com o Borges, justamente. O Rillo morreu em 95, sem que eu tivesse apertado sua mão; para a Barranca de 96, o Jaca insistiu que eu fosse, mas não fui. Com sua morte, na primeira noite do inverno daquele ano, fiz o compromisso comigo mesmo de ir no festival no ano seguinte, para colher depoimentos de seus amigos, alguns vindos da infância, outros da juventude. Pensava em talvez escrever uma biografia. 

Preciso dizer, entre parênteses, que a Barranca é um evento singular. De quarta-feira até o sábado de Aleluia, se reúnem numa barranca do rio Uruguai os camaradas – todos homens, apenas homens –, que passam ali os dias num regime comunitário que lembra um acampamento de guerra, mas sem guerra: todos estão ali pela conversa, pela amizade e pelos momentos musicais, porque sim, há um festival de canções inéditas, compostas de um dia para o outro, em torno de um tema dado na noite de sexta por um júri. Em 97, tive a honra de figurar nesse júri.

[Continua...]

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