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Pedro Haase Filho (com a parceria de Ricardo Chaves): O homem com nome de orelha

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Pedro Haase Filho (com a parceria de Ricardo Chaves): O homem com nome de orelha Uma pequena biografia em duas partesPedro Haase Filho (com a parceria de Ricardo Chaves) Chega a ser quase um clichê afirmar que o brasileiro não tem memória. Ou pior, ser um povo que não cultua sua história. O personagem desta reportagem biográfica é alguém que se enquadra no perfil daqueles que, com o passar do tempo, vieram a padecer dessa máxima.  Se perguntarmos por aí, mesmo em círculos luminares, ‘quem foi Ovídio Chaves?’, uma das respostas mais comuns será: “o nome não me é estranho, mas não lembro bem quem foi…”. Não tivesse sido ele um dos intelectuais e artistas mais atuantes e envolventes ao longo de boa parte do século XX, até falecer em 1978, aos 68 anos, seria compreensível o quase esquecimento.  Mas o fato é que não lhe foi reservado o mesmo reconhecimento de muitos dos seus contemporâneos. A maioria deles, aliás, pertencia ao seu grupo próximo de amizades e de atividade profissional. Portrait de Ovídio nos 30 (Foto: Studio Azevedo e Dutra) No entanto, como poderemos perceber no decorrer desta história, Ovídio Chaves foi um protagonista relevante durante sua vida, um ativo e fulgurante participante do cenário cultural gaúcho e brasileiro, dos anos 1930 a 1970. Era um homem ao mesmo tempo múltiplo e singular: jornalista, músico, compositor, poeta, romancista e boêmio. Casado e pai de três filhos, foi proprietário de três bares noturnos, ativista político e, na última década de vida, também um artesão a expor seus trabalhos na chamada “feira hippie”, em Ipanema, no Rio. Essa trajetória plena de peculiaridades começou em 29 de julho de 1910, quando nasceu na pequena Lagoa Vermelha, cidade hoje com pouco mais de 25 mil habitantes, da região dos Campos de Cima de Serra, no Rio Grande do Sul. Neste 2020 da pandemia do Covid-19, completam-se 110 anos do nascimento de Ovídio.  Como dissemos, foram muitos os amigos até hoje famosos do nosso personagem, e um dos mais chegados era o poeta Mario Quintana. Companheiros de jornalismo na Caldas Júnior, de poesia e de boemia na noite porto-alegrense. Tanto que, saudoso do parceiro, Ovídio certa vez viajou até Alegrete, na longínqua Fronteira Oeste, no final dos anos 1930. Foi durante um período curto em que o poeta voltou a viver na cidade natal, como rememora outro ilustre alegretense, o escritor Sergio Faraco, em trecho de deliciosa crônica publicada recentemente nas redes sociais: “Mario Quintana estava morando no Alegrete, na casa de seu cunhado, Átila Leães, quando recebeu a visita de Ovídio Chaves, o quase esquecido poeta e letrista de inúmeras canções. Enquanto conversavam, Sia Balbina, a velha empregada, serviu café com bolo de cenoura e ouviu uns quantos elogios do visitante para aquela gostosura que ela mesma fizera. Não o esqueceu. Tempos depois, perguntou a Quintana:  ‘E aquele seu amigo, quando vai voltar?’  ‘Qual amigo?’, estranhou o poeta. Sia Balbina, aplicando sua própria concepção de metamorfose, prontamente o identificou: ‘Aquele que tem nome de orelha’.” Ovídio deriva do latim ovis, literalmente quer dizer ovelha, mas, por extensão, alguns […]

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Uma pequena biografia em duas partesPedro Haase Filho (com a parceria de Ricardo Chaves) Chega a ser quase um clichê afirmar que o brasileiro não tem memória. Ou pior, ser um povo que não cultua sua história. O personagem desta reportagem biográfica é alguém que se enquadra no perfil daqueles que, com o passar do tempo, vieram a padecer dessa máxima.  Se perguntarmos por aí, mesmo em círculos luminares, ‘quem foi Ovídio Chaves?’, uma das respostas mais comuns será: “o nome não me é estranho, mas não lembro bem quem foi…”. Não tivesse sido ele um dos intelectuais e artistas mais atuantes e envolventes ao longo de boa parte do século XX, até falecer em 1978, aos 68 anos, seria compreensível o quase esquecimento.  Mas o fato é que não lhe foi reservado o mesmo reconhecimento de muitos dos seus contemporâneos. A maioria deles, aliás, pertencia ao seu grupo próximo de amizades e de atividade profissional. Portrait de Ovídio nos 30 (Foto: Studio Azevedo e Dutra) No entanto, como poderemos perceber no decorrer desta história, Ovídio Chaves foi um protagonista relevante durante sua vida, um ativo e fulgurante participante do cenário cultural gaúcho e brasileiro, dos anos 1930 a 1970. Era um homem ao mesmo tempo múltiplo e singular: jornalista, músico, compositor, poeta, romancista e boêmio. Casado e pai de três filhos, foi proprietário de três bares noturnos, ativista político e, na última década de vida, também um artesão a expor seus trabalhos na chamada “feira hippie”, em Ipanema, no Rio. Essa trajetória plena de peculiaridades começou em 29 de julho de 1910, quando nasceu na pequena Lagoa Vermelha, cidade hoje com pouco mais de 25 mil habitantes, da região dos Campos de Cima de Serra, no Rio Grande do Sul. Neste 2020 da pandemia do Covid-19, completam-se 110 anos do nascimento de Ovídio.  Como dissemos, foram muitos os amigos até hoje famosos do nosso personagem, e um dos mais chegados era o poeta Mario Quintana. Companheiros de jornalismo na Caldas Júnior, de poesia e de boemia na noite porto-alegrense. Tanto que, saudoso do parceiro, Ovídio certa vez viajou até Alegrete, na longínqua Fronteira Oeste, no final dos anos 1930. Foi durante um período curto em que o poeta voltou a viver na cidade natal, como rememora outro ilustre alegretense, o escritor Sergio Faraco, em trecho de deliciosa crônica publicada recentemente nas redes sociais: “Mario Quintana estava morando no Alegrete, na casa de seu cunhado, Átila Leães, quando recebeu a visita de Ovídio Chaves, o quase esquecido poeta e letrista de inúmeras canções. Enquanto conversavam, Sia Balbina, a velha empregada, serviu café com bolo de cenoura e ouviu uns quantos elogios do visitante para aquela gostosura que ela mesma fizera. Não o esqueceu. Tempos depois, perguntou a Quintana:  ‘E aquele seu amigo, quando vai voltar?’  ‘Qual amigo?’, estranhou o poeta. Sia Balbina, aplicando sua própria concepção de metamorfose, prontamente o identificou: ‘Aquele que tem nome de orelha’.” Ovídio deriva do latim ovis, literalmente quer dizer ovelha, mas, por extensão, alguns […]

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