Folhetim | Parêntese

Rafael Escobar: Festinha do Capeta – Capítulo 9

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Rafael Escobar: Festinha do Capeta – Capítulo 9 (No capítulo anterior: ao fazerem uma pequena parada em uma exposição de arte, os aventureiros adquirem máscaras mágicas que transformam a aparência daqueles que as usam; assim, munidos de disfarces convincentes, eles partem rumo ao destino final da jornada.) Eu gostaria de conseguir explicar por que eu me sinto tão impotente e inútil o tempo inteiro – queria ter ao meu dispor uma explicação mais elaborada do que simplesmente o nome de algum transtorno emocional. Ansiedade, depressão… são palavras que não dão conta do impacto que eu sinto que todas as coisas têm em mim. Hoje eu vivo numa época em que a novidade é sempre uma tragédia, e me angustia muito a sensação de que existe algo que pode ser feito, porque acho que nem sempre existe algo que pode ser feito, e porque eu não faço nada. Faz tempo desde a última vez em que eu senti que a vida era uma sucessão de coisas que só raramente tinham de fato alguma importância. Agora é como se todos os momentos fossem definitivos pra uma nova e profunda sensação, mas a questão é que eles não são. Tudo só parece. Com certeza, o que eu vivi durante a pandemia do coronavírus em 2020 foi determinante pra uma melhora no meu estado mental, já que hoje em dia eu sinto que descanso; no entanto, sigo sem o entendimento de o que são as coisas e de qual é a real importância delas. Quando vimos de longe uma movimentação na entrada de um prédio da rua da Praia, eu soube que Deus me esperava em algum lugar depois de tudo. Uma música pop genérica foi ficando cada vez mais alta conforme a gente se aproximava do lugar e também foi aumentando o número de pessoas que transitavam por ali. Aproveitamos um casal que tava saindo e entramos pelo portão; algumas pessoas ficaram nos olhando, mas nada que parecesse muito desconfiado – tudo tranquilo. Fomos nos encaminhando pro fundo do corredor do prédio, rumo ao que deveria ser um salão de festas. Só gente bonita: ninguém de máscara, todo mundo com seus lindos rostos à mostra, sorridentes, dançando que nem adultos numa formatura; em uma das paredes do grande salão, uma enorme faixa: OVER QUARENTENA PARTY. Fiquei em dúvida sobre a qualidade do inglês decidido pra esse nome, mas não dediquei muito pensamento a isso. No contorno do salão, formando um círculo, havia mesas com canapés e baldes com gelo e champanhe, também long necks de cerveja. Algumas pessoas tavam sentadas nas cadeiras, e outras tavam de pé, transitando ou dançando pelo meio do salão – o clima parecia bem normal, bem tranquilo, nada preocupante, mas eu não conseguia parar de pensar que algo ruim tava prestes a acontecer, que aquele ar de tranquilidade e diversão na verdade escondia algo tenebroso. Eu tava olhando em volta quando uma mulher muito arrumada, de vestido e salto alto, gritou do outro lado do salão e veio caminhando meio exaltada na direção do nosso grupo.  […]

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(No capítulo anterior: ao fazerem uma pequena parada em uma exposição de arte, os aventureiros adquirem máscaras mágicas que transformam a aparência daqueles que as usam; assim, munidos de disfarces convincentes, eles partem rumo ao destino final da jornada.) Eu gostaria de conseguir explicar por que eu me sinto tão impotente e inútil o tempo inteiro – queria ter ao meu dispor uma explicação mais elaborada do que simplesmente o nome de algum transtorno emocional. Ansiedade, depressão… são palavras que não dão conta do impacto que eu sinto que todas as coisas têm em mim. Hoje eu vivo numa época em que a novidade é sempre uma tragédia, e me angustia muito a sensação de que existe algo que pode ser feito, porque acho que nem sempre existe algo que pode ser feito, e porque eu não faço nada. Faz tempo desde a última vez em que eu senti que a vida era uma sucessão de coisas que só raramente tinham de fato alguma importância. Agora é como se todos os momentos fossem definitivos pra uma nova e profunda sensação, mas a questão é que eles não são. Tudo só parece. Com certeza, o que eu vivi durante a pandemia do coronavírus em 2020 foi determinante pra uma melhora no meu estado mental, já que hoje em dia eu sinto que descanso; no entanto, sigo sem o entendimento de o que são as coisas e de qual é a real importância delas. Quando vimos de longe uma movimentação na entrada de um prédio da rua da Praia, eu soube que Deus me esperava em algum lugar depois de tudo. Uma música pop genérica foi ficando cada vez mais alta conforme a gente se aproximava do lugar e também foi aumentando o número de pessoas que transitavam por ali. Aproveitamos um casal que tava saindo e entramos pelo portão; algumas pessoas ficaram nos olhando, mas nada que parecesse muito desconfiado – tudo tranquilo. Fomos nos encaminhando pro fundo do corredor do prédio, rumo ao que deveria ser um salão de festas. Só gente bonita: ninguém de máscara, todo mundo com seus lindos rostos à mostra, sorridentes, dançando que nem adultos numa formatura; em uma das paredes do grande salão, uma enorme faixa: OVER QUARENTENA PARTY. Fiquei em dúvida sobre a qualidade do inglês decidido pra esse nome, mas não dediquei muito pensamento a isso. No contorno do salão, formando um círculo, havia mesas com canapés e baldes com gelo e champanhe, também long necks de cerveja. Algumas pessoas tavam sentadas nas cadeiras, e outras tavam de pé, transitando ou dançando pelo meio do salão – o clima parecia bem normal, bem tranquilo, nada preocupante, mas eu não conseguia parar de pensar que algo ruim tava prestes a acontecer, que aquele ar de tranquilidade e diversão na verdade escondia algo tenebroso. Eu tava olhando em volta quando uma mulher muito arrumada, de vestido e salto alto, gritou do outro lado do salão e veio caminhando meio exaltada na direção do nosso grupo.  […]

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