Folhetim | Parêntese

Rafael Escobar: O eremita de verde e amarelo – Capítulo 5

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Rafael Escobar: O eremita de verde e amarelo – Capítulo 5 (No capítulo anterior: Jonas e Gabriel finalmente partem em sua jornada rumo à Rua da Praia, para resgatar a mãe de Gabriel e no caminho enfrentam uma mochila do iFood assassina; a batalha é difícil, mas a dupla enfim consegue derrotar a vilã) Tem um dilema ético que eu acho que deveria ser trazido à tona com mais frequência, que é o problema que existe em admirar a dolorida obra de algum artista que teve uma vida fudida e refletiu isso na arte. Digo, o preço que essas pessoas pagaram pra fazer o que fizeram foi bem alto, daí a gente vai lá e fetichiza tanto a obra quanto o sofrimento da criatura. Sei lá. Não tá errado, eu acho, mas talvez, um pouco, ou não. Só acho que deveria surgir essa questão com um pouco mais de frequência, porque dá um cansaço ver tanta gente que não tem ideia do que é querer morrer, admirando sei lá eu, a Sylvia Plath, quando ela talvez teria dado qualquer coisa pra não se sentir como se sentia, mesmo que não escrevesse uma linha sequer. Tô dizendo isso porque é muito pior viver a obra do que escrever ou ler a obra, e foi o que eu pensei quando vi a mochila do iFood morta na minha frente. BAH, VIU SÓ COMO A GENTE É UMA BOA DUPLA? Não respondi nada, mas confesso que eu tava exultante por dentro – acho que a última vez que eu tinha sentido qualquer coisa parecida eu ainda era criança. Peguei a boleadeira, e seguimos caminhando. Me deu aquele estalo e resolvi passar um álcool gel; tirei o frasquinho do bolso e derramei um pouco na mão.  Pôo, consegue um alquinho gel aê, parceria – falou um mendigo que tava deitado na calçada quase na esquina com a Barros.  Bah, não vai rolar, meu.  E foi aí que chegamos no Bambu’s. Por incrível que pareça, o bar tava aberto, e por mais incrível ainda: tava cheio. Já dava pra ver de longe algum movimento, mas quando chegamos ali a coisa ficou bem clara: um monte de junkiezinhos jovens e velhos, com aquele sotaque porto-alegrense super relaxado devido aos tragos e cigarros e becks, se amontoava por dentro e por fora do lugar. Não demorou muito, e eu avistei: tava ali, em sua completa formação, a banda Maluquescentes, que vinha crescendo nos últimos tempos e que fazia questão de dizer que era uma banda do chamado rock gaúcho, resgatando influências naquelas consagradas nos anos 80 e 90. Além deles, avistei também um grupo que parecia um pouco mais deslocado: eram os membros da Gurizada Comilona, uma banda de música gauchesca que tinha apenas integrantes acima do peso. Resolvendo dar um tempo ali pra ver se tinha uma Fanta pro Gabriel, entramos no bar. Passei reto pelos Maluquescentes (esse tipo de gente já chama e já tem muita atenção; eu não queria pegar nem um pouco da energia arrogante que emana desse povo que se acha o máximo […]

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(No capítulo anterior: Jonas e Gabriel finalmente partem em sua jornada rumo à Rua da Praia, para resgatar a mãe de Gabriel e no caminho enfrentam uma mochila do iFood assassina; a batalha é difícil, mas a dupla enfim consegue derrotar a vilã) Tem um dilema ético que eu acho que deveria ser trazido à tona com mais frequência, que é o problema que existe em admirar a dolorida obra de algum artista que teve uma vida fudida e refletiu isso na arte. Digo, o preço que essas pessoas pagaram pra fazer o que fizeram foi bem alto, daí a gente vai lá e fetichiza tanto a obra quanto o sofrimento da criatura. Sei lá. Não tá errado, eu acho, mas talvez, um pouco, ou não. Só acho que deveria surgir essa questão com um pouco mais de frequência, porque dá um cansaço ver tanta gente que não tem ideia do que é querer morrer, admirando sei lá eu, a Sylvia Plath, quando ela talvez teria dado qualquer coisa pra não se sentir como se sentia, mesmo que não escrevesse uma linha sequer. Tô dizendo isso porque é muito pior viver a obra do que escrever ou ler a obra, e foi o que eu pensei quando vi a mochila do iFood morta na minha frente. BAH, VIU SÓ COMO A GENTE É UMA BOA DUPLA? Não respondi nada, mas confesso que eu tava exultante por dentro – acho que a última vez que eu tinha sentido qualquer coisa parecida eu ainda era criança. Peguei a boleadeira, e seguimos caminhando. Me deu aquele estalo e resolvi passar um álcool gel; tirei o frasquinho do bolso e derramei um pouco na mão.  Pôo, consegue um alquinho gel aê, parceria – falou um mendigo que tava deitado na calçada quase na esquina com a Barros.  Bah, não vai rolar, meu.  E foi aí que chegamos no Bambu’s. Por incrível que pareça, o bar tava aberto, e por mais incrível ainda: tava cheio. Já dava pra ver de longe algum movimento, mas quando chegamos ali a coisa ficou bem clara: um monte de junkiezinhos jovens e velhos, com aquele sotaque porto-alegrense super relaxado devido aos tragos e cigarros e becks, se amontoava por dentro e por fora do lugar. Não demorou muito, e eu avistei: tava ali, em sua completa formação, a banda Maluquescentes, que vinha crescendo nos últimos tempos e que fazia questão de dizer que era uma banda do chamado rock gaúcho, resgatando influências naquelas consagradas nos anos 80 e 90. Além deles, avistei também um grupo que parecia um pouco mais deslocado: eram os membros da Gurizada Comilona, uma banda de música gauchesca que tinha apenas integrantes acima do peso. Resolvendo dar um tempo ali pra ver se tinha uma Fanta pro Gabriel, entramos no bar. Passei reto pelos Maluquescentes (esse tipo de gente já chama e já tem muita atenção; eu não queria pegar nem um pouco da energia arrogante que emana desse povo que se acha o máximo […]

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