Ensaio | Parêntese

Rejane Martins: Casa-grande no Caribe Francês

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Rejane Martins: Casa-grande no Caribe Francês
Guadalupe tem 85% de afrodescendentes em sua população e cultua um museu interativo sobre o tráfico e a escravatura de africanos nas Antilhas Quem algum dia pensou em viajar para Guadalupe?  A bem da verdade, confesse: você saberia localizá-la no mapa? Poucos sabem. O pequeno arquipélago no Caribe é uma extensão da França sobre o qual pouco se ouve falar no Brasil.  As paisagens de cartão postal fazem jus a todos os clichês que utilizamos ao falar de praias paradisíacas e essa coisa toda.  Porém, antes mesmo de se chegar às delícias de Guadalupe, algo, desde o embarque em Paris, chama a atenção de quem está acostumado a uma sociedade em que o normal é ver gente de pela branca por todos os lados. Sejam passageiros, sejam da equipe de serviço, as pessoas são negras em sua grande maioria. Já nos balcões da Air France, passando pelos abomináveis detectores de qualquer coisa que possa te constranger e pela roleta russa da imigração, uma variedade de tons de pele negra desperta um botãozinho de que há um mundo diferente. Dentro do avião, o mesmo. Apesar de ser um destino dominado por turistas da França, pelo menos 70% dos passageiros são negros. Para uma negra que nasceu, cresceu e vive basicamente no Rio Grande do Sul, é uma experiência de estranhamento às avessas. Não sentir-se minoria. Não ser a única em um espaço dominado pela população branca.  Eis outro mundo perfeitamente possível.Vista de cima, Guadalupe é percebida como uma borboleta cercada de pontinhos. Seu desenho é formado de duas grandes ilhas (Basse Terre e Grande Terre) ligadas por duas pontes e rodeadas por outras pequenas ilhotas: Marie-Galante, La Désirade e Les Saintes e ainda mais outras, minúsculas e praticamente desertas, usadas como refúgio para pássaros.A região de “Basse-Terre” é o paraíso verde para aventureiros explorarem 42.000 hectares de floresta tropical. O outro lado, “Grande-Terre”, é a parte ideal para viver no arquipélago. E por todo o território, o azul do mar se mescla com verde e prata enfeitiçando turistas e nativos.  As águas transparentes e nunca frias, temperaturas ficam em torno de 24 graus, são um grande atrativo para qualquer um. Pois entre tantos atrativos e deleites, nada me comoveu tanto quanto a visita a um museu. Oi? Você está no paraíso, cercada por praias belíssimas e vai se enfiar em um museu? Pois é… Sou negra elitista, dizem uns, metidinha, afirmam outros… De fato, mesmo dentro de condições bem limitadas – filha de uma professora primária e de um auxiliar de enfermagem, que geraram sete filhos –, recebi educação suficiente para despertar esse gosto.  Eu adoro mesmo um museu. Do Louvre ao Iberê Camargo, passando por biboquinhas em qualquer interior, como um pobre e mofado museu no Caminito, em Buenos Aires, o fato é que eu não resisto a uma visitinha. Com a exuberância de 240 metros de comprimento, o Memorial ACTe impressiona já do lado de fora.  Inaugurado em 2015, o prédio foi construído à beira-mar bem onde funcionava a usina de açúcar de Darboussier, já […]

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