Revista Parêntese

Editorial 31: Monumentos graúdos, memórias miúdas

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Editorial 31: Monumentos graúdos, memórias miúdas Coisa certa a fazer na vida, independentemente de pandemia ou qualquer outro mal: ler Machado de Assis. Ler de novo. Estudar. Ler o que ele escreveu, ler o que ele leu, entender o jeito de pensar dele. Conversar sobre ele e sua obra. Especular sobre sua vida, tão significativa – neto de escravos alforriados, filho de mãe imigrante portuguesa pobre, faz uma carreira inesperada, socialmente e, muito mais ainda, intelectualmente. Escreveu mais de 200 contos, dez romances, pencas de crônicas, algumas peças, ensaios e poemas. Nunca produziu diretamente memórias, o que a gente só pode lamentar. (E também só dá pra chorar de cantinho ao saber que, com a morte de sua grande parceira, Carolina, ele deliberou queimar a correspondência dos dois. Maldito! Já pensou o que saberíamos dele agora?) A Parêntese tomou uma sábia medida a respeito: convidamos Rodrigo Breunig para repassar, em três textos, alguma coisa do mundo dos contos do nosso gênio – sim, ele é o nosso Shakespeare, o nosso Cervantes, o cara que deu rosto e têmpera à literatura brasileira em escala superior. (Depois dele tem uma meia-dúzia, em outras modalidades.) Num país que em seu tempo de colônia não teve permissão para desenvolver universidade nem imprensa, que manteve a escravidão por várias décadas depois da Independência e que até hoje não deu escola boa para os de baixo, Machado é ao mesmo tempo literatura e reflexão, diversão e crítica, Goethe e Kant numa só pessoa. Machado é monumental e isso também evoca a reportagem da edição: examinamos com detalhe estátuas e monumentos da cidade. Acompanhando esse movimento analítico, Gunter Axt desenha o fundo histórico em que se pode apreciar adequadamente o problema.   Na entrevista, ouvimos Marcelo Coelho, jornalista da Folha de S. Paulo, integrante de seu Conselho Editorial, colunista e escritor. Sua visão por assim dizer azeda da atualidade permite enxergar coisas talvez até inéditas para a maioria de nós.  As excelentes fotos de André Feltes, mais do que as fotos em geral, lidam com luz e sombra. E as fotos dos parceiros do Plantabaja identificam limites. Rafael Escobar segue nos contando da saga do Jonas Pasteleiro, agora num capítulo que se dobra sobre si mesmo e, lido com atenção, é capaz de dar um nó na percepção. Ana Marson dá uma dica estranha, enquanto José Falero ensaia uma analogia entre dois massacres, distantes, desiguais e desparelhos por certo, mas cuja aproximação arma hipóteses críticas assustadoras. O cartum traz nosso Mosco Tosco. Arthur de Faria revela mais dos anos 1920 na música. Cláudia Laitano descreve o racismo estrutural.  O fabuloso e breve Petit Casino porto-alegrense tem novo capítulo de sua saga contado por Julia da Rosa Simões. Théo Amon oferece três alucinantes contos de Franz Kafka em nova tradução.  Para fechar, um presente para os leitores, numa edição já recheada de coisa boa: um passeio pela obra e pela vida de Enoi Salete Riegel, uma professora que vive em Campo Bom, depois de peregrinar por algumas outras terras, na pacata vida de aposentada – […]

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Coisa certa a fazer na vida, independentemente de pandemia ou qualquer outro mal: ler Machado de Assis. Ler de novo. Estudar. Ler o que ele escreveu, ler o que ele leu, entender o jeito de pensar dele. Conversar sobre ele e sua obra. Especular sobre sua vida, tão significativa – neto de escravos alforriados, filho de mãe imigrante portuguesa pobre, faz uma carreira inesperada, socialmente e, muito mais ainda, intelectualmente. Escreveu mais de 200 contos, dez romances, pencas de crônicas, algumas peças, ensaios e poemas. Nunca produziu diretamente memórias, o que a gente só pode lamentar. (E também só dá pra chorar de cantinho ao saber que, com a morte de sua grande parceira, Carolina, ele deliberou queimar a correspondência dos dois. Maldito! Já pensou o que saberíamos dele agora?) A Parêntese tomou uma sábia medida a respeito: convidamos Rodrigo Breunig para repassar, em três textos, alguma coisa do mundo dos contos do nosso gênio – sim, ele é o nosso Shakespeare, o nosso Cervantes, o cara que deu rosto e têmpera à literatura brasileira em escala superior. (Depois dele tem uma meia-dúzia, em outras modalidades.) Num país que em seu tempo de colônia não teve permissão para desenvolver universidade nem imprensa, que manteve a escravidão por várias décadas depois da Independência e que até hoje não deu escola boa para os de baixo, Machado é ao mesmo tempo literatura e reflexão, diversão e crítica, Goethe e Kant numa só pessoa. Machado é monumental e isso também evoca a reportagem da edição: examinamos com detalhe estátuas e monumentos da cidade. Acompanhando esse movimento analítico, Gunter Axt desenha o fundo histórico em que se pode apreciar adequadamente o problema.   Na entrevista, ouvimos Marcelo Coelho, jornalista da Folha de S. Paulo, integrante de seu Conselho Editorial, colunista e escritor. Sua visão por assim dizer azeda da atualidade permite enxergar coisas talvez até inéditas para a maioria de nós.  As excelentes fotos de André Feltes, mais do que as fotos em geral, lidam com luz e sombra. E as fotos dos parceiros do Plantabaja identificam limites. Rafael Escobar segue nos contando da saga do Jonas Pasteleiro, agora num capítulo que se dobra sobre si mesmo e, lido com atenção, é capaz de dar um nó na percepção. Ana Marson dá uma dica estranha, enquanto José Falero ensaia uma analogia entre dois massacres, distantes, desiguais e desparelhos por certo, mas cuja aproximação arma hipóteses críticas assustadoras. O cartum traz nosso Mosco Tosco. Arthur de Faria revela mais dos anos 1920 na música. Cláudia Laitano descreve o racismo estrutural.  O fabuloso e breve Petit Casino porto-alegrense tem novo capítulo de sua saga contado por Julia da Rosa Simões. Théo Amon oferece três alucinantes contos de Franz Kafka em nova tradução.  Para fechar, um presente para os leitores, numa edição já recheada de coisa boa: um passeio pela obra e pela vida de Enoi Salete Riegel, uma professora que vive em Campo Bom, depois de peregrinar por algumas outras terras, na pacata vida de aposentada – […]

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